Com a chegada do 5G, pode-se afirmar que 2022 deverá ser um ano marcante para o setor de tecnologia no País. Com o início das operações desta conexão, o País dará um salto tecnológico em direção à massificação da comunicação móvel de alto desempenho.
Robson Calvetti, da Universidade São Judas. Crédito: divulgação
“Para o brasileiro começar a usufruir do 5G até o início do segundo semestre deste ano, de acordo com as exigências governamentais da concessão, serão necessários grandes esforços e investimentos a curto, médio e longo prazo, nas áreas de infraestrutura, desenvolvimento, equipamentos, transferência tecnológica, capacitação técnica e outras mais”, analisou o Engenheiro Eletrônico, Especialista em Engenharia de Software, Mestre em Engenharia Eletrônica e Computação, Consultor e Professor dos cursos de Engenharia e Tecnologia da Informação da Universidade São Judas, Robson Calvetti, em entrevista o Portal de Notícias da GS1 Brasil.
Mas quando o processo tiver início, os benefícios serão inúmeros e atingirão diversas esferas, segundo afirma o sócio-líder de Tecnologia, Mídia e Telecomunicações da KPMG no Brasil, Márcio Kanamaru.
Márcio Kanamaru, da KPMG. Foto: divulgação
“O 5G pode viabilizar veículos autônomos, conectividade mais estável e multiplicidade das conectividades. Portanto, 2022 será um marco, com experiências mais imersivas e com uso massivo de realidade aumentada, que demanda uma banda bastante grande e que exige um mínimo de latência possível. Teremos evolução na área da medicina com funções como a telecirurgia, que vão democratizar o acesso à saúde de qualidade”, mostra.
Diante deste cenário, as estimativas são de um crescimento importante na economia nacional. “Um estudo da consultoria Omnia, junto com a Nokia, mostra que até 2035 o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro vai ter um incremento de U$ 1,2 trilhão, o que é bastante significativo”, releva Kanamaru.
O leilão do 5G foi realizado no fim do ano passado. Contudo, as concessões das operações do 5G ainda não terminaram.
“No leilão realizado pelo governo brasileiro, nos dias 4 e 5 de novembro de 2021, não houve interessados para algumas das faixas de frequências de operação oferecidas. Foram arrematadas 85% delas na ocasião. No início do mês de dezembro de 2021, o Ministério das Comunicações informou que essas sobras de frequências deverão entrar em leilão novamente, ao longo de 2022, completando todo o leque de ofertas do padrão”, lembra Calvetti.
Para a implantação da nova tecnologia até as datas e nos locais determinados pelo edital, já estão em andamento inúmeras ações e projetos nos diversos segmentos do “ecossistema” 5G, tais como: instalações, ampliações e adequações da infraestrutura de Internet por meio de fibras ópticas, dos servidores, das Estações Rádio Bases – ERB, as chamadas “antenas”, e das suas conexões; e desenvolvimento, produção, adequação e comercialização dos equipamentos móveis, em toda gama de frequências oferecidas pelo padrão, para as diversas aplicações.
A dificuldade para a implementação de um novo padrão de comunicação móvel, como o 5G, por si só, é enorme. São novos equipamentos, tecnologias, pessoal técnico especializado, novos problemas etc.
Somado a isso, o Brasil será o primeiro país da América Latina que, além do padrão 5G Non Stand-Alone – NSA, irá adotar o padrão 5G Stand-Alone – SA, o chamado “5G puro”. “O 5G-NSA utiliza a infraestrutura de rede de comunicação móvel já existente para os outros padrões, principalmente o 4G, de forma compartilhada. O 5G-SA requer uma infraestrutura pura e exclusiva para essa nova tecnologia, o que propicia alcançar o máximo de desempenho que o padrão 5G pode oferecer”, descreve o especialista da Universidade São Judas.
Além disso, o leilão do 5G brasileiro não tratou apenas da tecnologia. Pelo edital, junto ao direito de explorar essas novas operações, algumas das empresas vencedoras tiveram de assumir contrapartidas. Entre elas:
Focando apenas na velocidade, as conexões em 5G, por padrão, poderão chegar a taxas de transmissão de dados entre 10Gbps e 15Gbps, onde Gbps representa Giga bits por segundo, ou bilhões de bits em um segundo.
Já as conexões 4G, por padrão, em movimento, podem chegar entre 100Mbps e 150Mbps, onde Mbps representa Mega bits por segundo, ou milhões de bits em um segundo, explica Calvetti. “Sendo assim, em média, o 5G poderia ser até 100 vezes mais rápido que o 4G”, pontua.
Devido às características de alto desempenho, o 5G permite o atendimento de inúmeras e diferentes aplicações. Portanto, segundo explica o especialista da São Judas, viabiliza, massifica e diversifica conceitos como, por exemplo, Internet das Coisas (Internet of Things – IoT), Internet de Todas as Coisas (Internet of Everything – IoE), Aprendizagem de Máquina (Machine Learning), Inteligência Artificial (Artificial Intelligence – AI), Computação em Nuvem (Cloud Computing) e Cidades Inteligentes (Smart Cities).
“A população vai ter experiências mais reais, imersivas e com velocidade maior. Não precisamos de 5G para trocar mensagem. Mas será possível se pensar numa chamada holográfica, por exemplo. De forma direta ou indireta, a sociedade será impactada. Será um mecanismo de transformação social e econômica”, resume o executivo da KPMG.
Calvetti mostra alguns exemplos práticos dessas mudanças:
Saúde: equipamentos móveis, monitorando pacientes e envio de dados aos médicos em tempo real; sistemas inteligentes de exames laboratoriais e imagens, gerando enormes quantidades de dados remotamente e processando diagnósticos através da Computação em Nuvem e Inteligência Artificial; e cirurgias robóticas, controladas à distância.
Transporte: veículos privados e públicos conectados em tempo real com as Cidades Inteligentes e suas múltiplas infraestruturas; ruas, avenidas e estradas inteligentes, melhorando a segurança, fluidez e eficiência dos transportes e usuários; veículos autônomos mais rápidos, confiáveis e seguros, trocando grandes quantidades de informações e executando suas missões e em tempo real.
Educação: dispositivos móveis, utilizando Realidade Virtual (Virtual Reality – VR), Realidade Aumentada (Augmented Reality – AR), Realidade Mista (Mixed Reality – MR) e/ou Realidade Estendida (Extended Reality – XR), transformando o modo como as pessoas aprendem; professores desenvolvendo novas técnicas educacionais baseadas em tecnologia; estudantes realizando viagens virtuais a museus, pontos históricos, laboratórios, sistemas solares etc.
O padrão 5G deverá, rapidamente, repaginar e modernizar a chamada “era dos aplicativos”, difundida, principalmente, no 4G, quando foram introduzidos diferentes e inéditos modelos de negócios. E as pequenas e médias empresas (PMEs) poderão ser beneficiadas com esse cenário.
“Pequenas e médias empresas são o grande motor da economia brasileira. O 5G vai ser disponibilizado e democratizado, fazendo com que PMEs acessem e criem novos negócios e vai tenham munição tecnológica para competir com as grandes. Essas empresas poderão, ainda, desenvolver suas tecnologias em cima do 5G, se reinventar e trazer novas experiências”, projeta Kanamaru.
Calvetti aponta mais alguns exemplos práticos:
Agropecuária: excelência nos processos agrícolas, com monitoramento individual e remoto; sistemas de irrigação, fertilização, controle de pragas, segurança e saúde das criações, monitoramento de culturas; controle da cadeia de abastecimento, geração e armazenamento dos produtos, manipulando grandes quantidades de dados, com rapidez e eficiência e integrando zonas rurais amplas e distantes.
Indústria: sensoriamento, controle e atuação nos diversos parâmetros necessários ao longo dos processos de fabricação, em tempo real; aumento da produção e redução de seus custos; redução dos custos de manutenção; diminuição dos prazos entre a ideia, o projeto e a sua produção (Time To Market – TTM); aumento da vida útil dos equipamentos; aumento do tempo médio entre falhas dos equipamentos (Mean Time Between Failures – MTBF); melhoria da qualidade dos produtos, além de sua maior diversificação; maior eficiência nos investimentos etc.
Fotos: iStock
Tecnologia 5G e as oportunidades para a indústria 4.0
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