As startups voltadas para o agronegócio, também conhecidas no mercado como agTechs, ou agrotechs, têm avançado a passos largos no País. Segundo dados do 2º Censo AgTech – Startups Brasil, entre 2016 e o primeiro semestre de 2018, o número de empresas com esse perfil saltou de 76 para 184 companhias que têm ajudado a agricultura a entrar na era digital.
Gerente executivo da ESALQTec Incubadora Tecnológica, Sergio Marcus Barbosa. Crédito: Marcela Matavelli
O gerente executivo da ESALQTec Incubadora Tecnológica, Sergio Marcus Barbosa (foto), considera dois movimentos fundamentais para esse crescimento: o posicionamento do agronegócio brasileiro como o grande setor da economia e a crise econômica brasileira que levou ao desemprego.
“Numa ponta estão os impressionantes números da produção e exportação das commodities atraíram olhares de muita gente. Na outra, temos grande contingente de recursos humanos disponíveis no mercado, que passaram a procurar colocação e recolocação através de iniciativas empreendedoras”, esclarece.
Do ponto de vista do agronegócio, o advento das agtechs é muito positivo, já que essas empresas têm trazido soluções para os mais diversos tipos de problemas e desafios daqueles que atuam no segmento. “Precisamos de uma produção mais intensa de grãos, biomassa, fibra e proteína animal. E com menos recursos, seja de água, insumos, área e tempo”, sintetiza Barbosa.
Essas empresas também ajudam o agronegócio a entrar no movimento que já é chamado de Agricultura 4.0. “As startups estão colaborando, efetivamente, no processo de digitalização, da etapa inicial da pesquisa até a comercialização, na mitigação das assimetrias de informação.
Essa contribuição vai da capacidade de sensoriamento, criação do big data, monitoramento das operações, automação, robótica, blockchain, machine learning e, em um futuro muito próximo, a Inteligência Artificial, tanto para processos mecânicos como para biotecnológicos”, projeta o especialista da ESALQTec.
Nesse sentido, as agtechs são capazes de atender diversas frentes. Em termos biotecnológicos, já existem soluções para o controle biológico de pragas, biofixação de nutrientes, microbiologia, enzimas, novos fertilizantes, biossensores, protetores de plantas, etc.
Na parte digital, podem oferecer sensoriamento remoto da lavoura para detecção e identificação de plantas daninhas, pragas e doenças; climatologia (pluviosidade, temperatura, umidade); uso racional e tecnologia da irrigação; sistemas de monitoramento de máquinas e implementos; aplicação de doses variáveis de insumos (defensivos e fertilizantes); crédito agrícola, entre outros. Acompanhe, a seguir, a realidade de algumas agtechs que se estabeleceram no País.
Drones da Horus Aeronaves em atuação no agronegócio. Crédito: DIVULGAÇÃO
A Horus Aeronaves nasceu em 2014 e desenvolve tecnologia em imagens aéreas com o uso de drones. A empresa surgiu quando três estudantes de Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Santa Catarina começaram a participar de um projeto de pesquisa com drones, a Céu Azul Aerodesign. Eles participaram de alguns campeonatos nacionais e internacionais, conquistando, inclusive, um título brasileiro no ano de 2012. Nesse período, começaram a visualizar um potencial de mercado nessa área e desenvolveram a agtech.
“A Horus possui como modelo de negócio a fabricação de drones asa fixa com estrutura em fibra de carbono com foco em mapeamento aéreo para monitoramento agrícola”, descreve o sócio-fundador e CEO da Horus Aeronaves, Fabrício Hertz.
A operação completa se dá com o voo do drone e o processamento das imagens capazes de calcular áreas, relevo, volumes e distâncias. Além disso, a Horus também desenvolveu uma Plataforma de Processamento de Imagens On-line, a Mappa.
“Com o uso de algoritmos inteligentes, são extraídos diversos dados fundamentais para o aumento da lucratividade e tomadas de decisões estratégicas, como contagem da cultura, identificação de linhas e falhas de plantio, de pragas, doenças e estresse, aplicação de índices de vegetação para análise da saúde da plantação, entre outros resultados”, exemplifica Hertz.
Segundo ele, hoje, a empresa atende consultores agronômicos, prestadores de serviço, cooperativas, grandes empresas e também os produtores rurais. “De 2017 para 2018, registramos um crescimento de 50% e, para 2019, temos a previsão de triplicar este resultado. Para tanto, estamos desenvolvendo novas soluções adequadas ao agronegócio”, conclui Hertz.
Software Strider Protector é focado em gestão, monitoramento de pragas e doenças. Crédito: DIVULGAÇÃO
A Strider foi fundada em 2013 para atuar no setor de agronegócio, mas nenhum dos três idealizadores havia atuado na área. Todos vinham do setor da tecnologia. “Eles foram estudar o mercado e ver onde a tecnologia ainda poderia ser aplicada para melhorar alguns setores. Nessas pesquisas, identificaram que o agronegócio ainda tinha muito a ser explorado. Era um setor que ainda precisava passar por uma revolução digital”, relembra a diretora de marketing da Strider, Flora Viana do Carmo.
Hoje, o carro-chefe da empresa é o software Strider Protector, focado em gestão, monitoramento de pragas e doenças. “As pragas são questões muito presentes nas fazendas. Então, as equipes de campo precisam avaliar o nível de infestação em diferentes momentos da safra. Mas, ao invés de fazerem isso no papel e caneta, eles podem usar um tablet com o nosso software para inclusão de dados e fotos. A tecnologia é georreferenciada e não precisa de conexão de internet na hora da inserção de dados, o que é um facilitador já que o sinal ainda é um gargalo nas áreas agrícolas”, explica Flora.
Os dados cadastrados são transformados em um mapa de calor, que indica onde a infestação está acima do equilíbrio, onde há sinais de alerta e os locais nos quais o agricultor não precisa se preocupar. Com esses dados, consegue-se identificar quando e onde aplicar o defensivo agrícola.
“Sem o software, costuma-se aplicar os defensivos numa área muito maior do que a necessária, gastando-se mais em produto, maquinário e tempo dos tratoristas, aumentando o custo da operação”, acrescenta.
Além de monitorar as pragas, o Strider Protector também consegue acompanhar o desempenho da equipe de campo, identificando onde aquele profissional esteve, acompanhar metas e corrigir erros de performance. Quando o técnico chega com os dados gerados na sede da fazenda, que tem sinal de internet, o tablet sincroniza, automaticamente, as informações coletadas no dia.
A empresa também oferece o Strider Tracker para melhorar a produtividade das máquinas. “Esse software permite identificar onde está cada máquina, se está na velocidade correta para a execução da atividade, tempo de manutenção, quem está dirigindo, entre outros dados. Alertas no celular podem ser gerados para situações consideradas críticas pela empresa”, destaca.
Como os softwares desenvolvidos pela startup nasceram para ser configuráveis, eles são capazes de para atender qualquer cultura. Hoje, a maioria dos clientes é formada por grandes produtores e empresas de médio porte, mas já existem soluções voltadas para agricultores pequenos.
Há um ano, a empresa foi adquirida pela Syngenta, companhia global especializada em sementes e produtos químicos voltados para o agronegócio. “Buscamos para 2019/2020 ampliar nossa área de atuação. Hoje, temos 4 milhões de hectares monitorados com nossos softwares e atendemos mais de 3 mil fazendas.
Estamos com uma expansão internacional acontecendo também. Já atendemos Estados Unidos, Argentina, México, Bolívia, Paraguai. Além disso, já pensamos em novas soluções para outros problemas do setor”, revela Flora.
Foto abertura: iStock
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