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As lições da fábrica 4.0 da Coca-Cola no Brasil

Você sabia que a primeira fábrica da Coca-Cola no mundo a operar no sistema 4.0 fica no Rio de Janeiro? Fausto Padrão, gerente de engenharia da Coca-Cola Andina – franqueada do sistema Coca-Cola que produz e distribui os produtos em parte da região Sudeste, Paraguai, Argentina e Chile – contou como funciona essa operação no Summit 4.0, evento promovido pela GS1 Brasil em maio.

“O modelo de produção da Coca-Cola é muito comum em todas as fábricas do mundo. Mas o processo fica por conta da franqueada e a Andina queria fazer algo diferente. Queria mais flexibilidade na produção, layout otimizado para ter veículos autônomos robotizados, boa ventilação e iluminação, transparência, visibilidade, sustentabilidade e a melhor tecnologia disponível possível. E, principalmente, que fosse uma indústria digitalizada”, explicou o executivo.

O projeto nasceu em 2012 e a fábrica foi instalada no Rio de Janeiro com cinco linhas de produção em 2017. Alguns pontos de estrutura são considerados inovações presentes apenas nesta unidade entre todas as franqueadas da Coca-Cola. Entre elas: mini xaroparia dedicada para cada linha de envase (que em outros locais é uma única xaroparia que abastece todas as linhas), o que proporciona flexibilidade; uso de água quente como energia térmica em vez de vapor. É a primeira implantação no Brasil com uma máquina tribloco, que sopra, enche e rotula a garrafa no mesmo equipamento. Também utiliza LGV para produtos – robôs que coletam insumos e levam para as linhas de produção.

O local possui também: iluminação totalmente em LED, sistema WMS e 100% dos processos digitalizados. A fábrica foi concebida de acordo com as diretrizes sustentáveis e já recebeu a certificação LEED, a mais importante para construções verdes.

Entre os ganhos obtidos, estão a redução de custos, diminuição de erros, aumento de produtividade e maior eficiência energética.

Conceito disruptivo

Segundo o executivo, é preciso entender se o desenvolvimento tecnológico é uma oportunidade ou um problema. “A transformação digital tem de ser vista como a nossa capacidade de quebrar paradigmas, que são movimentos disruptivos. Dentro desse conceito, as tecnologias da Indústria 4.0 são um meio e não um fim. Não basta implementar todas as tecnologias se o processo for ruim”.

Nesse sentido, foram muitos os desafios e dificuldades na implementação da fábrica. Surgiram questões como: todos os processos devem gerar dados digitais? Qual seria o melhor desenho para a rede de TI? Como integrar os sistemas? Como garantir segurança cibernética?

“A partir daí, a Andina elaborou o Plano Diretor de Automação e Informação (PDAI) para os fornecedores, ou seja, um documento para padronizar hardware, protocolo de comunicação, desenho da rede de dados, especificações para a fábrica, etc. “De 2015 para 2017 este documento já estava obsoleto, mas ele foi importante para ter algo mais claro e definido”, contou.

Atualmente, a empresa está consolidando a geração e a armazenagem de dados, realizando PoCs (proof of concept ou prova de conceito) com sistemas de realidade aumentada e analisando soluções de machine learning.

Outro grande desafio que a empresa ainda enfrenta, mesmo após implantação da fábrica, diz respeito à cultura de inovação. O executivo afirmou que a empresa vem trabalhando para mudar o mindset de colaboradores.

Fausto Padrão completou dizendo os três insights que levaram a Coca-Cola Andina a entender o que é uma indústria 4.0:

  • Gerar dados acima de tudo, pois eles são a chave para transformação digital. Não basta coletar o dado, mas transformá-lo em informação.
  • Cada negócio tem o seu próprio modelo de manufatura inteligente, não há metodologia pronta. Além da tecnologia, é preciso pensar nos processos e a gestão de mudanças.
  • Indústria 4.0 é um processo incremental e inevitável.

Foto: Eliane Cunha

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