Augusto Corrêa, da PPA. Foto: divulgação
A bioeconomia é um modelo de produção industrial baseado no uso de recursos biológicos, segundo definição da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). O objetivo é oferecer soluções para a sustentabilidade dos sistemas de produção com vistas à substituição de recursos fósseis e não renováveis.
Segundo dados da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD), estima-se que a bioeconomia movimente 2 trilhões de euros no mercado mundial e seja responsável por aproximadamente 22 milhões de empregos.
Diante da força deste conceito, o Portal de Notícias da GS1 Brasil entrevistou o secretário executivo e porta-voz da Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA), Augusto Corrêa, que mostrou a importância da bioeconomia de forma global, porque esse conceito tem se fortalecido e de que forma a PPA tem contribuído nesta jornada.
Acompanhe, a seguir, a entrevista na íntegra.
É um termo que existe há algum tempo e vem se tornando cada vez mais utilizado nos últimos anos. De maneira mais conceitual, visa tirar algum tipo de proveito econômico ou valor agregado a partir da produção vinculada ao aproveitamento sustentável dos recursos naturais.
A bioeconomia tem diferentes abordagens e isso depende do campo onde está sendo inserida. Ela pode estar inserida no campo extrativista, ligada à produção agrícola ou extração de insumos mais específicos.
Ou na parte tecnológica, quando falamos de produzir novos produtos ou substâncias a partir de extratos naturais. Ou também podemos falar de uma economia voltada aos serviços, que esteja vinculada a algum tipo de padrão natural.
Temos dois quesitos que precisam ser relativizados. Primeiro, porque o Brasil é um país mundialmente reconhecido como fornecedor de commodities ou “celeiro do mundo”. De fato, temos uma produção agropecuária muito relevante. O uso da terra é tão significativo, bem estruturado e importante, que é natural que a bioeconomia esteja vinculada a esse processo, uma vez que há a necessidade de transformar a produção cada vez mais eficiente, mais produtiva e diversificada. Esse é o viés mais geral.
Mas temos um outro quesito, que é quando falamos do potencial da bioeconomia no Brasil. Temos, hoje, o privilégio de ter a maior floresta tropical do mundo, que é a Amazônia, e que tem sido explorada de uma forma muito pouco eficaz, insustentável e, por vezes, ilegal.
E a bioeconomia surge como uma resposta para esse tipo de problema, trazendo maior valor agregado aos insumos da floresta.
Temos alguns setores que olham a bioeconomia há algum tempo e a indústria farmacêutica é uma delas. A indústria da energia também já trabalha com bioeconomia há algum tempo. São exemplos o etanol e o biodiesel, por exemplo.
Mas ultimamente, com essa onda de inovação, os setores têm buscado algum apoio, buscando, na natureza, algumas formas de melhorar seus produtos.
A indústria do plástico tem buscado alguns substratos naturais para tornar sua produção biodegradável ou que demore menos para se degradar. Da mesma maneira, a indústria de filmes (membranas) tem buscado ativos naturais para diversificar sua produção.
Acredito que essa é uma onda que vai se diversificar cada vez mais, uma vez que a sociedade tem reconhecido a importância de utilizar os recursos naturais com sustentabilidade, uma vez que percebemos que eles têm um limite.
Existem inúmeros. De uma perspectiva geral, é necessário que o cidadão consiga reconhecer o potencial e importância da utilização dos recursos naturais. Isso está vinculado à educação. Nós temos níveis de educação no Brasil muito baixos e uma vez que falamos sobre bioeconomia, e estamos atrelando a ciência a isso, é importante que as pessoas consigam ver valor no que se consegue extrair da natureza.
Mas, hoje, boa parte da população vê a floresta como um lugar selvagem, sem muito valor, porque não conhecem processos que possam agregar valor ao que é extraído e benefícios que podem ser levados para a população.
Ainda nesta toada da educação, para a bioeconomia, para produzir insumos mais atrativos ao mercado, é necessário investimento em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), especialmente da iniciativa privada.
Mas não adianta a empresa investir sozinha. É preciso criar um polo de desenvolvimento tecnológico e estabelecer Parcerias Público-Privadas (PPP), mas esse tipo de estratégia é cada vez mais escassa.
Se a produção pública de conhecimento está defasada, fica difícil conseguir ter resultados interessantes.
Por último, o consumo consciente também é muito importante. Na Europa e nos Estados Unidos eles são um pouco mais difundidos e a população tem entendido que é interessante consumir produtos com relação mais próxima da natureza.
A maior oportunidade já temos no Brasil, que é a maior reserva de recursos naturais do mundo. Outra oportunidade é a agenda global que temos em relação a mudanças climáticas, já que elas têm puxado agendas políticas.
Aliado a isso temos a nova onda de posicionamento das empresas ligada ao Environmental, Social and Corporate Governance (ESG). Isso faz com que as companhias pensem em como podem ser sustentáveis e menos lesivas ao meio ambiente.
É uma organização diferente. É um coletivo de empresas, institutos, Organizações Não-Governamentais (ONG) que nasceu em 2017 e que se uniu para trabalhar em prol do desenvolvimento sustentável da Amazônia, daí a origem do nosso nome Plataforma Parceiros Pela Amazônia (PPA). Nossa ideia é conectar diferentes atores para trocar boas práticas e construir uma agenda afirmativa no território. E nossos propósitos se resumem a projetos, que são as parcerias de desenvolvimento.
Esses projetos têm duas vertentes. Uma mais nuclear, do ponto de vista do desenvolvimento local e comunidades. Paralelamente, temos os projetos de aceleração de negócios de impacto, que são aqueles que visam lucro, mas ao mesmo tempo trazem impacto positivo para o meio ambiente e social. A PPA trabalha de maneira coletiva, olhando para o desenvolvimento sustentável, mas também considerando a perspectiva econômica, sempre pela lente da bioeconomia. Isso porque achamos que a Amazônia deve, sim, ser desenvolvida, mas de maneira sustentável.
Dentro das iniciativas da PPA, conseguimos trabalhar em mais de 5 milhões de hectares de área preservada.
Além disso, beneficiamos 30 mil pessoas, passando por populações indígenas, ribeirinhas e quilombolas. Com esse propósito de trabalho colaborativo, alcançamos mais de R$ 40 milhões em investimentos que vêmvem da própria PPA. E temos 105 negócios de impacto, talvez o mais robusto da Amazônia até hoje. Por último, temos a força da rede de mais de 40 membros.
Hoje, o critério para participar da PPA é estar na Amazônia e demonstrar que tem compromisso com a conservação da floresta. Hoje, sobretudo, temos grandes companhias parceiras da PPA, como as de mineração, alimentação, institutos e fundações. O benefício é o de ser um grupo de ação coletiva, então todos os indicadores vão para o balanço ESG dessas empresas.
Somos mais reconhecidos pelo apoio a negócios de impacto da região. A partir disso, entendemos as demandas do território e dos parceiros, nos articulamos e montamos o escopo do projeto. Depois, procuramos uma organização especialista, de preferência que já esteja na Amazônia, que tenha a expertise que nos é importante e essa organização implementa o projeto, não só com a ajuda da PPA como dos demais parceiros do projeto.
Depois disso, a PPA se encarrega de avaliar e monitorar o projeto, avaliando os benefícios alcançados.
A GS1 começou a participar das discussões da PPA no início de 2021 e eles foram muito bem-vindos, porque tem um conhecimento específico, voltado para rastreabilidade, que para a gente é muito importante para a produção extrativista responsável na Amazônia. Saber de onde vem cada produto é essencial para garantir que a terra tem um uso adequado.
Nas discussões que temos, a GS1 sempre traz uma expertise complementar.
A PPA tem um portfólio de produtos bem interessantes e robustos. Até o fim do ano devemos celebrar duas outras parcerias.
Estamos num momento muito especial, revisando nossos processos internos e construindo as ideias de longo prazo.
Passada a pandemia, depois do home office e isolamento social, também temos nos colocado para a estar cada vez mais presente em solo amazônico. Nossa ideia é estabelecer uma visão compartilhada e cada vez mais assertiva com as demandas do território.
Fotos:
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