Kevin Ashton é um cientista da computação britânico que, em 1999, criou um nome que veio para ficar: Internet das Coisas (IoT). O termo surgiu com o desenvolvimento de suas pesquisas no Auto-ID Center, do Massachusetts Institute of Technology (MIT), para criação de um sistema de sensores capazes de conectar o mundo físico ao digital, utilizando RFID. Foi nesse contexto que surgiu também o código EPC, padrão global da GS1. Desde então, a IoT vem ganhando relevância, e o que parecia ficção começa a fazer parte do cotidiano de todos nós.
Kevin Ashton – Foto: Divulgação Futurecom
Nesta semana, Kevin Ashton deu uma palestra sobre o futuro da IoT para o público brasileiro durante o evento Futurecom Digit@l Week.
Segundo o pesquisador do MIT, existe uma confusão sobre o que é IoT e, por isso, explicou que é mais fácil dizer o que não é: geladeira que fala, barbeador e garrafas inteligentes, por exemplo. É importante entender que a Internet das Coisas é um conjunto de tecnologias, um conceito acima de tudo. “É algo similar quando pensamos em inteligência artificial, que também é um conceito. Quando falamos sobre a Internet das Coisas, o que realmente queremos dizer é que são computadores entendendo o mundo por eles mesmos, usando sensores conectados à Internet”, ressalta.
Para ele, o mundo está cheio de informações em potencial, cheio de coisas que podemos transformar em dados que não temos. No século passado, os computadores eram totalmente dependentes de seres humanos para obter suas informações. Quase a totalidade dos dados disponíveis na internet foram, primeiramente, coletados e criados por pessoas – seja digitando um teclado, pressionando um botão de gravação, tirando uma foto digital ou escaneando um código de barras. Os diagramas convencionais que ilustram a internet incluem computadores, servidores, roteadores e outras máquinas, mas omitem os mais numerosos roteadores de todos – gente.
Na era da Internet das Coisas, é possível capturar dados importantes com sensores conectados à Internet. “Se fizermos uma analogia com o sistema nervoso humano, todos os nossos sentidos estão conectados ao cérebro e podemos coordená-los. Na Internet das Coisas, todas essas conexões ocorrem eletronicamente, ou seja, as pessoas utilizam os sensores conectados à Internet para transformar esse mundo em dados”, destaca.
No século 20, as decisões eram tomadas com base em planilhas. Hoje, há informações demais para análise. Por isso, a necessidade de usar sistemas de decisão baseados em computador, algoritmos, aprendizado de máquina e inteligência artificial. Todas essas tecnologias permitem a tomada de decisão via software, já que essa é a única maneira de lidar com o volume e fluxo de dados.
“Mas depois de tomar uma decisão, automaticamente você quer utilizá-la para agir. Na era da Internet das Coisas, há duas maneiras de tomar essa decisão: uma é dizer a alguém para fazer algo diferente, mudando o comportamento humano de alguma forma. E a outra é ter uma máquina fazendo algo físico no mundo real. Podemos citar como exemplo os sistemas automatizados em um carro, que poderão alertar sobre o risco de o automóvel quebrar ou se há algum objeto à frente para que o motorista freie. Vivemos em mundo de câmeras e sensores GPS conectados à rede, que também são exemplos simples de IoT”, menciona Kevin Ashton.
De acordo com o pesquisador, a IoT está no bolso de cada um de nós, no smartphone – que atualmente já perdeu bastante a função de telefone e pode ser considerado um computador de bolso. “Hoje, o smartphone tem cerca de 10 sensores conectados à rede. Não apenas GPS e câmera, mas pode sentir a temperatura, sua impressão digital, sua frequência cardíaca, para que lado está orientado, se para o norte ou sul. Todos esses sensores estão conectados à Internet, seja pela rede celular ou pelo Wi-Fi. Portanto, este aparelho que chamamos de celular é a Internet das Coisas no seu bolso”, enfatiza Ashton.
Outra tecnologia fundamental para a revolução da IoT é o RFID, que também está em expansão. “Há mais de 1 bilhão de tags RFID sendo utilizadas no mundo”, diz Ashton. Também contribuem para o crescimento da IoT, a evolução de telas e câmeras, que estão cada vez mais avançadas e com preços acessíveis, e a tecnologia 5G.
Segundo Kevin Ashton, ainda estamos nos estágios iniciais de adoção da IoT e há um longo caminho para a evolução desse conceito disruptivo em vários países, e não apenas naqueles tradicionalmente mais avançados tecnologicamente.
“Os EUA eram o grande exportador de alta tecnologia, mas vem caindo nos últimos anos e hoje ocupa a terceira posição. O Brasil é diferente, porque está exportando 160% a mais de alta tecnologia e seguirá crescendo nesse aspecto”.
Por isso, ele aposta: “O Brasil tem uma grande oportunidade para fazer o futuro da Internet das Coisas”.
Foto: Getty Images
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