O conceito de transformação digital está em expansão no Brasil. Por aqui, alguns segmentos estão mais avançados nesse processo, como bancos, indústrias, varejistas e setor automotivo.
No entanto, muitas empresas têm se mostrado inseguras no momento de definir um caminho a seguir. A grande dúvida é: como começar essa transformação para se tornar mais competitivo?
Pensando nisso, a reportagem do Portal de Notícias da GS1 Brasil ouviu especialistas de mercado e reuniu dicas e insights, além de um case, para ajudar a sua empresa nessa fase tão importante. Confira.
A Stefanini, provedora global de soluções de negócios baseadas em tecnologias digitais, define a transformação digital como um processo no qual as empresas adaptam o modelo de negócios para tirar proveito das inovações tecnológicas, assumindo que o ambiente online é tão fundamental quanto o mundo físico.
Em geral, as tecnologias que puxam a transformação digital são: big data, nuvem, Internet das Coisas (IoT), Inteligência Artificial e machine learning.
No entanto, fazer a transformação digital não significa adotar as novas tecnologias e torná-las o eixo central dos processos da companhia. “Transformação digital é uma forma de pensar diferente. Ser “digital” é ter o propósito de impactar positivamente o mercado e resolver os problemas com empatia. A tecnologia é um meio, e não um fim, para isso”, define o diretor global de inovação da Stefanini, Breno Barros.
Ele explica que a primeira onda da transformação digital no Brasil começou em 2014, mas aconteceu com força entre 2016 e 2018. Foi a fase de conscientização das companhias, que até então acreditavam que bastava investir em uma nova tecnologia para dar esse importante passo.
“Hoje, em 2019, estamos na segunda onda da transformação digital que é a fase de execução, ou seja, as empresas já sabem que precisam mudar, mas querem saber como fazer isso, como criar soluções inovadoras junto com o cliente e como mudar os processos”, avalia Barros.
Até 2020, 40% das empresas da América Latina terão articulado a digitalização para serem mais competitivas, sendo o Brasil o principal mercado da região, segundo o estudo “O Valor dos Dados na Transformação Digital”, realizado pela empresa de software de plataforma de dados InterSystems, em parceria com a IDC.
Na opinião de Alessandro Cosin, CEO da Cosin Consulting – consultoria de TI e Negócios do Grupo Dentsu Aegis Network (DAN) –, o conceito de transformação digital ainda é pouco internalizado, porém está presente na agenda global e local de empresa de todos os portes e, certamente, será ainda mais difundido.
“Acreditamos em um mundo mais integrado e eficiente, em que a tecnologia não estará mais tanto em evidência, mas sim embarcada em todos os produtos, processos e serviços. A inovação, mais do que uma meta, será incorporada ao dia a dia das empresas”, aposta Cosin.
É importante lembrar que nem todo ramo de negócio permite uma empresa se tornar 100% digital. Uma companhia de minérios, por exemplo, tem produtos físicos que não vão deixar de existir, mesmo se ela apostar na transformação digital.
“Da porta para dentro da empresa, tem muita tecnologia que pode ser implementada para otimizar os negócios. Mas, da porta para fora, nem sempre tudo vai ser digital, porque depende do core business”, analisa Barros.
Assim, a companhia precisa:
No Brasil, as operadoras de telefonia são um exemplo nesse aspecto. No passado, elas tinham como negócio principal as linhas de telefone fixo e o orelhão. Os novos tempos chegaram e elas entenderam que essas duas frentes eram apenas pedaços do negócio que, com o tempo, diminuíram. Hoje, oferecem linhas para celular, jogos, TV por assinatura, ou seja, negócios digitais em torno do core business inicial.
“Vejo muitas empresas tentando migrar o negócio por completo, mas talvez nem precise ser 100% digital. Nossa orientação é desenvolver novos modelos de negócio e serviços”, diz Barros.
Saber tirar o melhor proveito dos dados é outro ponto que representa um grande desafio no processo de transformação digital.
Na visão do diretor-presidente da Online Data Cloud, Adriano Filadoro, poucas empresas sabem ler, interpretar e extrair valor dos dados gerados internamente ou ainda tirar proveito de dados externos para dinamizar seus negócios.
“Mas essas poucas têm conseguido obter novos insights, monitorar o negócio a partir dos dados atuais, otimizar os processos e monetizar o conhecimento adquirido através da análise dos dados. Isso é transformação digital”, avalia.
As tecnologias estão bastante acessíveis e são um meio para ganhar eficiência, colaboração e produtividade. A grande questão é mudar a cultura da empresa. “Essa é a parte mais desafiadora, porque é necessário mudar o mindset da liderança para transformar o modelo de negócio e os processos”, diz Breno, da Stefanini.
A liderança precisa estar aberta ao novo e assumir o compromisso da transformação digital, conduzindo de fato a área de inovação da companhia. “Não basta criar uma área de inovação, com um ambiente descolado, e delegar toda a responsabilidade para esta equipe”, alerta Breno.
Depois de a liderança assumir a transformação digital, a ser implementada 100% ou parcialmente na empresa, o próximo passo é verificar quais são as áreas que vão levar essa mudança adiante.
“É importante envolver todos no processo, comunicando claramente os objetivos e, principalmente, descrevendo os desafios que terão pela frente num ambiente colaborativo”, destaca Filadoro, da Online Data Cloud.
Uma transformação bem-sucedida requer uma abordagem multifuncional, com forte integração entre departamentos que até então caminhavam, de certa forma, sozinhos.
“As equipes de engenharia, vendas e marketing estarão mais alinhadas, assim como TI, comunicação e logística. São muitas as combinações que vão surgir com o objetivo de ganhar eficiência e lucrar mais” completa o executivo.
Nesse sentido, a área de recursos humanos tem papel estratégico pois precisará definir quem são as pessoas e desenvolver as competências para essa mudança acontecer na prática. É interessante que a equipe receba algum estímulo (ganhar bônus, por exemplo) e que a liderança cobre resultados.
“Também é fundamental estabelecer consequências porque, não raro, há colaboradores que não concordam com a transformação digital, diz Barros.
Nas empresas há pessoas que entendem esse processo de transformação e são proativas, há os colaboradores que querem fazer, mas não entendem direito, e, por fim, há aqueles que entendem, mas não aceitam a transformação digital e podem até sabotar o processo, caso não tenha consequências pré-estabelecidas pela liderança. “Esse tipo de situação, muitas vezes, retarda todo o processo de transformação digital”, reforça Barros, da Stefanini.
Para fazer uma transformação digital consistente é preciso pensar grande, mas agir com moderação. Segundo Adriano Filadoro, da Online Data Cloud, grandes empresas, pioneiras da transformação digital, tropeçaram em erros que poderiam ter sido previstos se tivessem sido mais cautelosas.
“Não basta investir numa grande mudança organizacional se as pessoas não forem avisadas e treinadas. Não adianta melhorar o desempenho de um único departamento se logo a seguir o resultado ficar comprometido por falhas de continuidade”, alerta.
Muitos dos passos vistos até aqui foram implementados internamente pela Stefanini, antes de começar a apoiar seus clientes na transformação digital.
Há 32 anos no mercado, a multinacional brasileira – atualmente presente em 41 países – nasceu como uma prestadora de serviços de outsourcing. O diretor global de inovação Breno Barros conta que, há cerca de quatro anos, a Stefanini fez um mapeamento dos seus concorrentes – as empresas de tecnologia.
Porém, certo dia, depois de participar de um evento com vários players do mercado, percebeu que as startups, que sequer tinham sido consideradas concorrentes naquele mapeamento, estavam resolvendo os problemas do mercado de forma mais veloz e eficiente.
“Naquele momento, começamos a olhar para o futuro e ampliar nossa visão. Começamos a comprar startups, montamos um programa de aceleração de startups e chamamos parceiros, como as universidades”, conta Barros, acrescentando que, dessa forma, a empresa criou um ecossistema para trazer o cliente para dentro da empresa e falar para ele.
“Mudamos o nosso posicionamento de consultoria e nosso propósito passou a ser co-criar soluções”.
Para escutar o cliente e entregar rapidamente uma solução, a companhia criou uma área global de inovação para conduzir o trabalho junto ao mercado. Internamente, a área de inovação e a de recursos humanos promoveram a mudança de cultura, das competências e do mindset. “Não avaliamos mais os funcionários individualmente, mas em grupo, considerando a colaboração entre a equipe”, destaca Barros.
A partir daí, a empresa, de fato, mudou e passou a desenvolver novos produtos e negócios. Assim, além de oferecer os tradicionais serviços de Service Desk e outsourcing (BPO), a Stefanini oferece soluções que envolvem inteligência e cyber defense, tecnologia cognitiva, experiência de usuário, mobilidade, consultoria de marketing, coworking, entre outras.
A transformação digital da Stefanini virou case reconhecido pelo Insead, uma das maiores e mais prestigiadas escolas de negócios do mundo, e, nos últimos anos, a empresa ganhou vários prêmios de inovação.
“Para o futuro, imaginamos que a Stefanini será menos uma empresa de tecnologia e mais uma empresa que congrega várias frentes de negócios”, prevê Barros.
Fotos: iStock
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