O CEO Inova Consulting & Inova Business School, Luís Rasquilha, conta que a era da conectividade começou em 2007, quando a Apple lançou o primeiro smartphone, novidade que depois foi seguida por outras marcas.
Com formação em estratégia disruptiva pela Harvard Business School e Criatividade e Design Thinking pela Stanford University, ele afirma que, em apenas uma década, novos avanços decorrentes da conectividade surgiram, tornando a transformação digital inevitável para as companhias.
Segundo Rasquilha – que também é professor da FIA e da Fundação Dom Cabral e autor de vários livros sobre marketing, comunicação, futuro, inovação e tendências – no Brasil, muitas organizações já estão caminhando nessa direção, porém uma boa parte ainda acredita que a transformação digital ainda é algo muito distante do seu dia a dia. “Na minha opinião, esses vão ter mais dificuldade em conseguir sobreviver”, analisa.
Acompanhe os principais trechos da entrevista que Rasquilha que concedeu ao portal de notícias da GS1 Brasil sobre tendências para os negócios e transformação digital.
Várias fontes de informação apontam que, entre 2020 e 2025, 100% da população estará conectada. E, até 2030, a internet será um bem universal, quase como um bem mínimo de sobrevivência. A partir do momento que pessoas estão conectadas e com acesso rápido à informação, elas têm maior capacidade para construir opiniões. É a primeira vez na história que um cliente sabe mais de um produto do que um vendedor, que um paciente sabe mais da doença do que o médico, e que o aluno sabe mais que o professor.
Há uma grande discussão sobre como a automação e a robótica vão eliminar empregos e, ao mesmo tempo, criar novos. Já está provado, por diversos estudos, que a automação devidamente aplicada, gera emprego. Não cria emprego operacional, mas vagas estratégicas, intelectuais, de supervisão, de gestão. Fomos formatados para ser executores, mas, hoje, precisamos ser formados para ser supervisores. Essa é a primeira grande variável. A segunda tem a ver com a necessidade imperativa de todas as empresas fazerem sua transformação digital. Isso significa que transformação digital é mais transformação do que digital. Não significa ‘põe um monte de tecnologia, IoT, Big Data, impressora 3D e tá resolvido’. Não! Precisamos, primeiro, preparar as pessoas, o mindset e a cultura para estar dentro desse mundo mais digital. E só vemos uma forma disso acontecer: através da educação. O conhecimento dobrará a cada 12 horas em 2020. Portanto, aquilo que aprendemos na graduação, MBA, pós-graduação ou curso no ano passado, hoje, já tem uma boa parte desatualizada.
Quando pensamos em produtos e serviços neste contexto, precisamos pensar com a lente do cliente, que está muito mais digitalizado e conectado. Isso obriga reforçar a gestão e aqui a mensagem vai para as lideranças e empresas que pensam: ‘sempre fizemos desse jeito e sempre deu certo” e “não precisamos fazer grandes alterações’. O mundo está mostrando as tendências e os novos cenários para as próximas décadas que transformam radicalmente isso. Então, produtos, serviços ou empresas de sucesso precisam incorporar o mindset mais digital – que não é apenas tecnológico, mas comportamental – para entender o que são pontos de contato, o que é o cliente estar no centro das atenções e ter o poder de escolha.
A gente separa as empresas e gestores no Brasil em três grandes grupos. O primeiro terço é o que já está tocando a transformação digital, testando, aprimorando, acertando, errando, mas caminhando nessa direção. O terço do meio é um conjunto de empresas que fala: ‘sim, o mundo mudou e o que eu faço? Me ajudem, professores, consultores, colegas, parceiros, a entender e a tomar melhores decisões’. O terceiro terço é aquele que fala: ‘vocês estão loucos? Isso não é real. Isso não vai chegar no meu negócio, na minha cidade, na minha empresa’ – esses vão ter mais dificuldade em conseguir sobreviver, por isso precisam ser sensibilizados. Eu posso escolher em que terço quero estar e aceitar as consequências dessa escolha. E, apesar das pessoas falarem que o Brasil não funciona, o País é bastante avançado em muitas áreas, como segurança digital de bancos e educação a distância. Então não é linear. O Brasil está conectado? Não! Temos ainda um longo caminho pela frente. Mas não está tão atrás como alguns gestores gostam de fazer crer.
Há alguns grandes pilares tecnológicos que estão mostrando a sua relevância. Entre eles, o Big Data; a IoT, que tem se tornado internet de tudo, com tudo conectado – carros com estradas, prédios com ar-condicionado, geladeira com supermercados; celular com computador; as impressoras 3D, que têm o poder de desmaterializar e de centralizar centros de produção; e a inteligência artificial. Blockchain, que é toda a rede centralizada e verificada de transações, também está em crescimento e, talvez, seja o fator que traga o maior poder de disrupção aos mercados nos próximos anos.
Há uma frase de Charles Darwin que diz: ‘não é o maior e nem o mais forte que sobrevive, mas sim aquele que melhor se adapta’. Então, as palavras de ordem são adaptabilidade, resiliência, capacidade de enxergar as mudanças e conseguir se adaptar a isso. Nesse sentido, há três grandes passos que as empresas devem começar a colocar na sua agenda. O primeiro é a cultura, treinando e capacitando as pessoas para esse momento de mudança no mundo. O segundo é entender que mudança é essa, mapear cenários, tendências, olhar para o futuro. E o terceiro é começar a executar, olhando para o planejamento estratégico apontando o que precisa ser ajustado para adaptar a empresa à atual realidade.
Nossa consultoria trabalha com 65 tendências estáveis para a próxima década, mas podemos resumi-las em dois grandes grupos: as tendências tecnológicas e as humanas. Pessoas e tecnologia trabalhando juntas, porque essa é a combinação que vai fazer as empresas se prepararem e se transformarem, entenderem e aproveitarem as oportunidades que estão por vir. Criou-se o mito de que a tecnologia vai acabar com os humanos. Não é verdade. A gente vê a importância dos humanos supervisionando a tecnologia, programando e operacionalizando a tecnologias. Não dá para separar humano de digital e digital de humano, tecnologia de pessoas.
Foto: divulgação
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