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Todo consumo, seja um produto ou serviço, traz consigo impactos positivos e negativos.

O ato de consumir afeta não apenas quem compra, mas também o meio ambiente, a economia e a sociedade como um todo.

A produção de alimentos, por exemplo, às vezes requer uma grande quantidade de água para ser realizada, e, depois disso, ele ainda precisa ser transportado para os supermercados ou para o cliente, emitindo gases de efeito estufa durante seu transporte e contribuindo com as mudanças climáticas.

Além disso, entram nesta conta as condições de trabalho que a empresa oferece aos colaboradores e a maneira como são remunerados, o impacto ambiental da produção e o efeito na comunidade que fornece a matéria-prima, e até mesmo, o tratamento que é concedido aos animais durante o processo, por exemplo.

Por isso, é cada vez mais comum que estes aspectos sejam considerados antes de bater o martelo na hora da compra, com o olhar para toda a cadeia produtiva e de consumo.

Cenário do consumo consciente no Brasil

consumidora escaneia codigo de barras do produto no supermercado

Consumidora escaneia código de barras do produto no supermercado: brasileiros têm procurado cada vez mais informações antes de decidir a compra. Crédito: iStock.

Embora o brasileiro reconheça que o consumo desenfreado de recursos naturais cause impactos sociais e ao meio ambiente, ainda há muito a ser feito para ampliarmos o consumo consciente.

Uma pesquisa realizada pela Nielsen apontou que 42% dos consumidores brasileiros estão mudando seus hábitos de consumo para reduzir o impacto no meio ambiente.

Outro estudo, do Instituto Akatu, mostrou que apenas 24% dos consumidores podem ser colocados em uma condição de mais conscientes, ao considerar diversos hábitos, tais como ler rótulos antes de comprar produtos, separar o lixo, planejar compras de roupas e de alimentos.

Por outro lado, há algumas empresas brasileiras que estão fazendo a diferença e promovendo o consumo consciente. Um exemplo de sucesso é a Heborá, nome que tem como significado rios de mel.

A história da Heborá: impacto ambiental e social

Thais Guaratini (de camiseta branca), Elaine da Cunha (de boné), Juliana Feres (logo atrás da Elaine) e Mariana Feres (de óculos) são sócias da Heborá. Crédito: divulgação.

A ideia da Heborá surgiu de uma história pessoal de uma de suas sócias, a bióloga Juliana Massimino Feres, que ao finalizar o seu doutorado em meio ao nascimento do primeiro filho, o Francisco, encontrou dificuldades de reinserção no mercado de trabalho, mesmo após uma longa jornada de estudos voltados ao tema conservação ambiental.

Neste meio tempo seu filho teve vários problemas de amidalite, uma doença infecciosa que atinge as amígdalas, dois órgãos de defesa contra infecções que ficam no fundo da garganta.

“O Francisco tinha apenas dois anos e o médico disse que era necessário retirar as amígdalas dele. Desde então, comecei a pesquisar produtos naturais que tivessem ação bactericida natural, com base cientifica, que pudesse enriquecer o tratamento sugerido pelos médicos. Tudo para que ele não fosse submetido à cirurgia. Foi aí que encontrei os méis de abelhas sem ferrão”, explica.

Segundo ela foi uma grande surpresa, pois tinha trabalhado a vida inteira com polinização e nunca tinha aberto um ninho de abelha sem ferrão e até mesmo sequer provado o mel. A partir daí surgiu outro desafio: ela não havia encontrado o produto disponível para comprar.

“Mas meu avô tinha uma Jataí, que é uma espécie de abelha sem ferrão, e eu fui avaliar, estudar este mel e criar as abelhas pensando no Francisco. E olha só. Meu filho se recuperou com a combinação dos tratamentos, não precisou passar pela cirurgia e o meu trabalho com abelhas sem ferrão foi paixão à primeira vista. Mas eu queria ir além, inovar com mais produtos e passar este conhecimento para outras mulheres por meio de um negócio de impacto”, explica.

Assim nascia a Heborá, em 2015, um empreendimento feminino e materno, que acredita no desenvolvimento tecnológico com a floresta em pé -Viva!- e na  qualificação de mulheres do campo pela produção de mel, própolis e cera de Abelhas Nativas.

A empresa, inclusive, passou a ganhar ainda mais destaque pelo impacto positivo que a caracteriza.

Heborá: consumo consciente por mãos e asas femininas

Heborá é uma empresa de mãos femininas e asas femininas, das mulheres que empreendem com a empresa e das abelhas, respectivamente. Crédito: Tatiana Magalhães.

Por meio de uma grande rede de colaboradoras, a Heborá hoje distribui saúde, diversidade, inovação e conhecimento por meio das abelhas nativas do Brasil.

A empresa se baseia na meliponicultura, que é a atividade de criação de espécies de abelhas sem ferrão.

Abelhas SEM FERRÃO?

Abelhas sem ferrão tem se mostrado uma alternativa de geração de renda. Crédito: Tatiana Magalhães.

Sim! Você leu corretamente. Também chamadas Abelhas Indígenas ou Meliponíneos, elas representam imenso e pouco conhecido patrimônio biológico brasileiro.

No nosso país existem mais de 300 espécies dessas abelhas, distribuídas nas diversas regiões e formações florestais. São consideradas polinizadoras-chave para a manutenção de várias espécies vegetais nesses ecossistemas, além de produzirem méis e resinas de altíssima qualidade. Dentre as espécies mais conhecidas, destacamos as jataís, mandaçaias, irapuás/arapuás, uruçus, marmeladas e plebeias.

Diferentemente do que indica o nome, essas abelhas possuem ferrão atrofiado e, assim, elas são incapazes de ferroar.

Mel de abelhas sem ferrão Jataí da Heborá. Crédito: divulgação.

Não são necessários equipamentos de proteção e nem fumaça para o manejo. Por isso, elas podem ser criadas próximas de residências, inclusive em áreas urbanas. Muita gente possui algumas caixas nos jardins de casa.

A meliponicultura está em expansão no Brasil.  A criação racional de abelhas sem ferrão é uma alternativa de geração de renda. Por serem dóceis e de fácil manejo, cada vez mais novos produtores despertam o interesse em trabalhar com essas abelhinhas.

Os motivos são muitos e vão desde a produção de mel, delicioso e muito utilizado para fins terapêuticos, produção de própolis, geoprópolis, pólen e cera, multiplicação e venda de colônias até para fins de educação ambiental ou, simplesmente, passatempo.

No caso da Heborá, esta é uma atividade que, naturalmente, apresenta um impacto socioambiental muito positivo sob duas vertentes:

A bióloga e sócia da Heborá, Juliana Feres, durante trabalho de campo com as abelhas sem ferrão. Crédito: divulgação.

1 – Em geral, ela é executada por pequenas produtoras rurais, garantindo uma fonte de renda extra;

2 – Para abelhas obterem seus alimentos e prosperar, as florestas precisam estar em pé, ou seja, preservadas. Isso faz com que as pessoas tenham maior conscientização ambiental.

“Somos uma empresa de mãos femininas e asas femininas, das mulheres que empreendem com a gente e das abelhas, respectivamente.”, resume Juliana.

Além da bióloga, o time é composto por outras 3 sócias e um quadro de colaboradoras, algumas delas também produtoras de mel de abelhas sem ferrão.

Missão

Spray: mel de Jataí. Composto de mel de abelhas sem ferrão e extrato de própolis. Crédito: divulgação.

O objetivo da Heborá é atuar como uma colméia, transpondo o conhecimento cientifico e acadêmico para a sua incorporação pela a sociedade, ou seja, capacitando mulheres do campo na criação racional de abelhas nativas e desenvolvendo produtos que agreguem valor a diversidade de produtos disponíveis que as abelhas do Brasil têm.

Atualmente a empresa conta com uma vasta linha de produtos, composta por mais de 10 itens, que são comercializados pelo site. A empresa tem investido também nas divulgações pelo seu perfil no Instagram e no atendimento pelo WhatsApp (16) 99621-7722.

“Nós já usufruímos dos subprodutos das abelhas, com a venda de seus méis e própolis, utilizando estas e outras matérias primas da nossa biodiversidade para o desenvolvimento de cosméticos e suplementos alimentares.”, explica Juliana.

Desafios

Heborá inova ao contar também com uma linha de cosméticos: entre eles uma linha de sabonetes variados. Entre as composições estão Mel, Própolis e Pólen. Crédito: divulgação.

Até poucos meses atrás, a empresa trabalhava apenas de forma artesanal, pois ainda não contava com nenhum tipo de selo de inspeção, ou seja, que permitisse a regularização nacional de todos os produtos.

Atualmente a empresa já comemora novas conquistas. Passou a contar com uma fábrica de cosméticos, em fase de regularização pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em Ribeirão Preto/SP, e parcerias com entrepostos para beneficiamento do mel e própolis de abelhas nativas, além de pesquisas acadêmicas desenvolvidas junto a Faculdade de Farmácia da Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto, para ampliar o potencial do uso do mel e do própolis dessa rica biodiversidade brasileira.

No entanto, a Juliana lista os próximos desafios da empresa que serão importantes para alavancar ainda mais este crescimento:

  • Investimento: obtenção de aporte financeiro para que seja possível gerar ainda mais escala para as linhas de produtos Heborá, com a obtenção das devidas regularizações;
  • Pesquisa e desenvolvimento: desenvolvimento de novos produtos absorvidos de muita ciência e inovação, utilizando esta matéria prima maravilhosa, da biodiversidade brasileira;
  • Emprego e renda:  agregar ainda mais valor para toda cadeia envolvida, aumentando ainda mais a rede de mulheres que trabalham com a Heborá, gerando mais renda para as famílias agricultoras, em comunidades com vulnerabilidade social;
  • Meio ambiente: contribuir ainda mais com a preservação do meio ambiente em áreas que necessitam ser conservadas e regeneradas;
  • Estruturação comercial: desenvolver estratégias de apresentação desses produtos em prateleiras, promovendo interesse de compra associado à educação, mostrando todo o valor agregado, além dos seus benefícios de impacto ambiental e social o que permite uma experiência que vai além do consumo;
  • Inovação e tecnologia: implementar um processo de rastreabilidade dos produtos que ampliará a sua escalabilidade e confiabilidade no Brasil e no exterior.

Futuro com a rastreabilidade

Linha de cosméticos da Heborá traz também produtos como o Melipona – Pomada de Própolis e Bálsamo Irá – Hidratante Natural, entre outros. Crédito: divulgação.

A Heborá e a GS1 estão trabalhando em parceria para levar ainda mais inovação, tecnologia e impacto socioambiental positivo a cadeia de produção de mel. Confira alguns dos possíveis ganhos com a implementação do projeto de rastreabilidade, que já deve ser implementado no primeiro semestre de 2022:

Rastreabilidade: o pioneirismo do projeto de rastreabilidade da cadeia de produtos de mel e própolis com aplicação dos padrões globais da GS1, amplia a interação com os consumidores, garante a origem do produto e facilita a obtenção de licenças obrigatórias, promovendo inovação ao mercado nacional e internacional.

Automação: a automação proporcionará maior eficiência na identificação, captura e compartilhamento de dados, garantindo qualidade, confiabilidade e transparência aos processos, seguindo padrões globais e abertos que podem ser compartilhados com toda a cadeia de valor da Heborá, das produtoras de mel ao consumidor final.

Experiência de compra: com o código 2D na embalagem dos produtos, como o GS1 QR Code, o consumidor ganhará mais informação e segurança, visualizando detalhes sobre a origem do produto, por exemplo, a localização onde foi produzido, quem produziu e todos os registros e certificações, e fornecendo, ainda, informações institucionais da marca e do produto, mostrando o valor do impacto social e ambiental e promovendo educação ambiental.

Foto: Tatiana Magalhães (capa) / Divulgação / iStock


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