Quanto tempo será que um empreendedor leva para refazer um negócio abalado pela crise? Quatro meses. Este foi o tempo que a empresária Fernanda Martins criou uma coleção de roupas, começou a produzir as peças e fazer as vendas online. Rapidez na estratégia e na execução, apoio dos funcionários, foco e paixão pelo negócio evitaram que ela fechasse as portas nesta pandemia da Covid-19.
Com formação em Pedagogia e depois de trabalhar bastante tempo em escolas, Fernanda enveredou há dez anos para o universo da moda, criando uma marca de vestuário feminino com peças casuais, confortáveis e de alto valor agregado.
Ao longo dos últimos sete anos, a empreendedora manteve uma parceria comercial na qual ela criava e produzia as peças, e as vendas eram feitas por uma loja da capital paulista. Para isso, Fernanda montou uma estrutura com um pequeno escritório em São Paulo e a equipe de costureiras em Minas Gerais, com cerca de 20 funcionários.
Fernanda Martins, da NANH
De repente, tudo mudou. Com a crise, a loja decidiu encerrar a parceria. “Todos os pedidos foram cancelados e me vi num momento que precisei me reinventar: ou eu mudava minha forma de trabalhar e buscava soluções para continuar a empresa ou realmente precisaria fechar”, contou Fernanda para a reportagem do Portal de Notícias GS1 Brasil.
Foi um baque, mas ela não entregou os pontos. “Eu tinha fornecedores e funcionários para pagar, tinha muito tecido em estoque. Honrar meus pagamentos e conseguir manter os empregos eram as minhas maiores preocupações”, afirma.
Depois de alguns dias de reflexão, ela decidiu resgatar uma marca de óculos e roupas que já tinha criado em 2019, chamada NANH, seu apelido. “Até então, eu só fazia algumas peças, não me dedicava a esta marca porque o foco era outro”, explica. “Então, trabalhei 120 dias para estruturar a marca. Já tinha a criação, a produção das roupas e a divulgação, porque já fazia as fotos também, mas precisava da estrutura de vendas, do corpo a corpo com a cliente. E, neste momento difícil, tive muito apoio dos meus funcionários, que abraçaram tudo isso e passaram a ajudar nas vendas”, conta Fernanda, reforçando que seguiu as atividades da empresa seguindo todos protocolos de saúde.
Nessa nova realidade, ela começou a divulgar as peças pelas redes sociais e afirma que também teve o apoio de amigas e clientes antigas, que compartilhavam as postagens. Com essa força-tarefa, a marca conseguiu atrair seguidoras e clientes novas. “O Instagram se tornou a minha vitrine e o WhatsApp, minha ferramenta de venda”, diz Fernanda.
Paralelamente, a empresária investiu no e-commerce para turbinar as vendas. Para isso, contou com a ajuda do marido para estruturar o site da NANH, que ficou pronto no mês de maio.
O volume de vendas começou a crescer e foi preciso se mudar para um escritório maior, em meio à pandemia.
A empresa estruturou as entregas por meio de mensageiros na região de São Paulo e para qualquer local do Brasil via Correios. Aliá, já fez vendas até para os Estados Unidos – uma brasileira que mora lá conheceu a marca pelo Instagram, gostou e fez a compra.
Mesmo com tudo acontecendo muito rápido, Fernanda investiu no relacionamento com as clientes. “Enviamos uma cartinha escrita à mão junto com as roupas, dizendo que esperamos que elas usem as peças em momentos prazerosos e significativos. É uma forma de acolher as pessoas nesse momento complicado que todos estão vivendo”, diz a empreendedora.
Um dos fatores que vem colaborando para a NANH ter resultados positivos em meio à pandemia é a característica dos produtos, confeccionados em tecidos como moletom e plush, com modelagem exclusiva e estilo próprio. “As pessoas buscam roupas confortáveis e bonitas, são peças desejadas neste momento difícil”, afirma Fernanda, acrescentando que os conjuntos têm sido o carro-chefe de vendas.
A empresária conta que todos os ganhos obtidos nos três primeiros meses foram destinados ao pagamento dos fornecedores, funcionários e outras despesas. “Conseguimos manter os empregos, pagar todos os fornecedores, conquistar novos clientes e ganhar a confiança deles”, comemora.
No quarto mês, a empresa começou a lucrar. “Já comercializamos um volume maior de peças por mês do que vendíamos antes com a antiga parceria”, diz. “Antes vendíamos no atacado, agora no varejo. A margem aumentou, apesar de termos mais despesas. Mas no final ficou equilibrado”.
Qual foi a fórmula da NANH para sair da crise? “Muito trabalho”, ressalta Fernanda, acrescentando que fez tudo ao contrário dos conselhos que recebeu e do que outras empresas estão fazendo. “Não afastei funcionário na pandemia, não utilizei auxílio do governo, não renegociei com fornecedores, mudei de um escritório pequeno para outro que pago o dobro. Se eu não acreditar no meu trabalho, quem vai acreditar? Não me deixei abater. Não fiquei paralisada”.
Ela acredita que toda a situação da pandemia tirou todos da zona de conforto, mas deixou uma lição ainda maior, que é pensar coletivamente. “Deu certo porque não era bom só para mim, mas para todos que estão à minha volta e se dedicaram à marca – meus funcionários, meu marido, minhas amigas. O importante é pensar no coletivo e no que é bom para todos. Não existe mais aquela coisa de ganhar sozinho. Tudo está conectado”, reflete a empreendedor.
Com essa convicção, ela também promoveu uma ação social no período. “Fiquei sabendo que o pessoal da comunidade próximo da nossa empresa estava precisando de cestas básicas. Como eu tinha muitas peças dos pedidos que foram cancelados, pedi para as seguidoras do Instagram ajudarem a transformar o nosso trabalho em doações. Elas doavam R$ 85 reais, que era o valor da cesta básica, e eu doava uma calça de presente para elas. O valor foi repassado direto para o colégio que estava fazendo a arrecadação”.
Com esse turbilhão de mudanças, Fernanda conta que está mais realizada porque conseguiu deixar a marca mais alinhada aos seus propósitos, fazendo uma moda consciente – usando tecidos ecológicos (que contêm garrafa pet na composição, por exemplo), sem uso de plástico na operação – e pensando no próximo.
“Para mim, tudo isso que aconteceu foi excelente, porque agora minhas colaboradoras ganham mais, a marca tem a minha cara, as clientes dão uma devolutiva bacana, atraio atenção da mídia, que tem me procurado para editoriais de moda. É um reconhecimento muito importante em pouco tempo”.
A empreendedora mostra que tem fôlego de sobra e já faz planos para o futuro, mas, agora, sem pressa. O primeiro passo é abrir a loja física da NANH. “Será um espaço para receber as clientes, algo mais intimista e exclusivo”, comentou. Além disso, já recebeu uma proposta para comercializar as peças em uma loja multimarcas.
Fernanda também planeja expandir as vendas para plataformas de e-commerce. Para isso, ela se prepara utilizando os padrões GS1, que atualmente são obrigatórios nas vendas online. “Hoje nossa produção é pequena e preciso aumentá-la para vender numa plataforma maior e atender bem todo mundo. Quero expandir a marca, mantendo a qualidade, a cartinha escrita à mão, a embalagem bonita e a entrega rápida. Isso é mais difícil. Por isso, vou com cautela para fazer bem feito”, finaliza Fernanda.
Com muito trabalho, produto adequado para o momento e apoio de funcionários, família e amigos, Fernanda Martins fez a sua marca de roupas NANH ganhar vida na pandemia. Assim como ela, muitas empresas estão dedicando esforços para dar continuidade aos negócios com soluções inovadoras nesta crise causada pelo novo coronavírus.
Para mostrar projetos positivos como este, a GS1 Brasil lançou a série “Histórias que inspiram”, trazendo exemplos de quem está fazendo a diferença nesta pandemia, servindo de inspiração para outros empresários.
Para participar, basta enviar a sua história para o e-mail: noticias@gs1br.org
Fotos: Divulgação NANH
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