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Pós-Covid exige foco no propósito e na economia regenerativa

Com tantas mudanças causadas pela pandemia do novo coronavírus, num futuro próximo, as marcas precisam ter o seu propósito cada vez mais claro e ficarem atentas a um novo modelo econômico, a Economia Regenerativa – caracterizada por um consumidor mais conectado, exigente e solidário, com uma série de expectativas frente às empresas.

Esses são alguns insights da BOX1824, consultoria estratégica de decodificação de novos negócios, comportamento e inovação, que está conduzindo vários estudos para entender as principais tendências comportamentais catalisadas pela pandemia.

“O conceito da Economia Regenerativa não é tão popularizado, mas o tomamos como um termo importante para o futuro. Quando surgiu o cenário da Covid, vimos que os movimentos que estão conectados à Economia Regenerativa estão se intensificando”, disse o diretor de planejamento da BOX1824, Daniel Gasparetti, em entrevista ao Portal de Notícias GS1 Brasil.

Segundo o executivo, a Economia Renegerativa está apoiada em três pilares: consumo digital, consumo consciente e consumo social.

Em relação às dimensões de consumo digital e consciente, a geração Z (pessoas de 18 a 24 anos, também conhecidos como nativos digitais), já traz essas características, independentemente do cenário da pandemia.

daniel gasparetti diretor da box 1824

Daniel Gasparetti, diretor da BOX1824 – Foto: Divulgação

“Os jovens já são adeptos das compras online e têm uma visão muito mais crítica do que consomem, das marcas que compram. Um estudo recente nosso na área de moda com a geração Z mostra, por exemplo, que os jovens estão comprando menos produtos, porém itens de maior qualidade e com marcas com as quais eles têm mais conexão”, comenta Daniel.

Ele explica que a geração Z é mais ligada ao consumo consciente porque cresceu num cenário desafiador – a crise financeira global de 2008. “Eles não viram a abundância que o Brasil teve nos anos anteriores a 2008 que os millenials viveram.  Os millenials cresceram com estabilidade, mas os jovens da geração Z cresceram com instabilidade. Por isso, se tornaram pessoas mais práticas e entenderam que precisam fazer escolhas”, afirma o executivo. “Se não tem o dinheiro para comprar algo com a sua renda, eleescolhe muito melhor. É natural que o consumo se torne mais consciente”, completa.

Também é possível perceber de forma mais clara no comportamento da geração Z a dimensão do consumo social, que pode ser entendido em situações como empréstimo de pessoa para pessoa, vendas diretas, pessoas vendendo nas redes sociais e entregando para o comprador na estação do metrô, por exemplo.

O papel dos jovens não impacta só o futuro, mas o presente, porque eles podem ensinar os pais ou alguém mais velho a ultrapassar algumas barreiras, estimulando, assim, o consumo mais digital e social. “No último ano já tínhamos percebido alguns comportamentos se disseminando muito além da geração Z. E quando olhamos para o cenário do coronavírus, vemos várias mudanças que forçam que esses comportamentos se alinhem ainda mais”.

Um exemplo disso, comenta o diretor da BOX1824, é que muitas pessoas achavam complicado comprar pelo celular ou fazer uma reunião pelo computador. Mas por conta da quarentena, estão comprando mais produtos e aderindo a serviços online. “Por falta de opção, as pessoas começam a mudar seus comportamentos e provavelmente vão continuar depois da pandemia, porque percebem vantagens na vida prática”.

Marcas devem focar no seu propósito

Essas três dimensões do consumo – digital, consciente e social – exigem uma nova visão e posicionamento das marcas, que, mais do que nunca, precisam entender com clareza como construir a relação com o seu consumidor.

Não é novidade que o consumidor está mais informado e crítico. Com a pandemia, esse comportamento está ainda mais acentuado. “Por isso, vemos que as empresas precisam cada vez mais se conectar claramente com o propósito delas. A missão da empresa está muito ligada aos valores internos do negócio. Já o propósito é como ela se relaciona com a sociedade”, destaca Daniel.

“A gente defende que se uma empresa vai fazer uma doação ou um projeto ligado ao coronavírus, que ela crie isso com base no que tem a oferecer. Por exemplo: se é uma empresa de tecnologia, como ela pode usar a tecnologia para melhorar a vida das pessoas?. Se é do mercado financeiro, como cria soluções financeiras para melhorar a vida das pessoas?”.

Assim, é muito importante que o propósito seja manifestado em ações, e não apenas em propaganda, porque o consumidor percebe quando um discurso não está alinhado com a prática. “O propósito é como você faz, no que você acredita. A empresa precisa se conectar a isso e aplicar na prática”, destaca o executivo.

No entanto, muitas companhias ainda não têm essa mentalidade. Como virar essa chave? Na opinião de Daniel, há empresas que sempre querem se resguardar e evitar problemas. Mas isso é impossível nos dias atuais.

“Por mais que se tenha um negócio muito bem planejado, de repente surge uma pandemia global. Então é preciso ter uma capacidade de adaptação muito maior e a mentalidade de abraçar as mudanças e os desafios”.

Isolamento pode gerar inovação

A BOX1824 também tem analisado como o isolamento social impacta o comportamento das pessoas e, logo, como influencia os negócios das empresas.

“Até três semanas de confinamento, você está querendo muito voltar à sua vida anterior. Mas com oito semanas de confinamento, você passa a se adaptar, porém muito com o paralelo do que já fazia antes. Percebe, por exemplo, que pode fazer exercício em casa em vez de ir na academia”, comenta Daniel.

Passadas as oito semanas, as pessoas entram em uma fase diferente, adotando novos comportamentos e encontrando novas possibilidades, afinal, já tiveram tempo para refletir sobre seus hábitos. “A pessoa pode pensar: por que eu faço academia? Será que quero continuar? E a partir desse tipo de questionamento, começam a surgir possibilidades inovadoras”.

Com as empresas, o caminho é o mesmo. “Com três semanas de confinamento as empresas estavam paralisadas e desesperadas, tentando entender o que estava acontecendo, não sabiam se demitiam ou davam férias para os funcionários, por exemplo. Depois, elas começaram a trazer novas técnicas, pensar em focar no e-commerce que estava meio parado, na venda de um produto que estava com estoque alto, investir em tecnologia para fazer reunião remota. Mas, daqui a pouco, as empresas vão precisar entrar na fase de inovação”, alerta o executivo.

Portanto, neste momento, não é recomendado gastar recursos em adaptação, porque daqui a alguns meses, a equipe estará sem energia e a empresa sem dinheiro para inovação.

Para isso, é preciso entender muito bem o comportamento do consumidor, tanto os hábitos de compra atuais, já que ocorreram muitas mudanças recentemente. A partir disso, é possível enxergar o que as pessoas vão querer para o futuro e criar produtos e serviços que atendam às novas necessidades.

“Por mais que o curto prazo esteja desafiador, é importante que a empresa consiga olhar desde já para o médio e longo prazo para focar os esforços no que realmente traz inovação para ela”, conclui Daniel.

Foto: Getty Images

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