A pandemia da Covid-19 intensificou o processo de transformação digital e de adoção de tecnologia, tornando a vida das pessoas muito mais conectada num curto espaço de tempo. Nesse cenário, como as empresas se adaptaram a essas mudanças tão significativas e que, aliás, ainda estão em curso? Para refletir sobre esse novo momento, a GS1 Brasil criou o evento digital Conexão Tech, que em sua primeira edição, realizada no dia 29 de setembro, apresentou o tema “Houston-Gestão em Ação!”.
Gestão remota, cultura organizacional e ESG (sigla em inglês de Environmental, Social and Governance ou meio ambiente, social e governança) foram os assuntos que permearam o debate e a troca de experiências entre os painelistas convidados: Caio Nallini, gerente de gestão de pessoas no Magazine Luiza; Flávia Pontes, superintendente de pessoas e cultura da DASA; Helena Masullo, responsável por ESG na XP Investimentos; Andres Avila, marketing manager da Zebra Technologies; e Fábio Susteras, sócio da SPCAP Investimentos. O debate contou com a moderação da jornalista e CEO da DFreire Comunicação e Negócios, Débora Freire.
Débora Freire, da DFreire Comunicação e Negócios – Foto: Eliane Cunha
O público pode acompanhar o evento interagindo diretamente na plataforma online, com comentários e perguntas para os convidados.
Esta primeira edição do Conexão Tech teve o patrocínio da Zebra Technologies e da SPCAP Investimentos, além do apoio da Korde, Vércer e Activa-ID. Também contou com os parceiros da Agência Beato e da Totalinks.
Acompanhe, a seguir, os principais insights do Conexão Tech.
A pandemia tem representado um aprendizado muito grande para a DASA, grupo que possui mais de 30 laboratórios de medicina diagnóstica e 700 unidades de atendimento em todas as regiões do País. A empresa é mais conhecida pelas suas marcas, como Alta, Delboni, Lavoisier, entre outras. “A DASA é uma das empresas que mais fez exames de Covid no Brasil”, comentou Flávia Pontes, superintendente de pessoas e cultura da companhia, durante o Conexão Tech.
Flávia Pontes, da DASA – Foto:Divulgação
De maneira inesperada, a pandemia foi uma oportunidade para reforçar a cultura e o propósito da companhia, que foram redefinidos há dois anos colocando o paciente/cliente no centro da estratégia. “Transformar a saúde das pessoas nunca foi algo tão forte no dia a dia dos nossos colaboradores como neste momento de pandemia. Nesse aspecto, foi mais simples de mostrar nossa cultura e propósito na prática”, afirmou Flávia.
Neste período, várias iniciativas foram realizadas para gerenciar um “exército” de 25 mil colaboradores. Segundo a executiva, cerca de 2 mil colaboradores passaram a trabalhar em home office, enquanto outra parte atuou na linha de frente. “Tivemos de reforçar protocolos de segurança e reinventar a forma de atender ao cliente”.
Outra ação importante foi dar apoio para as lideranças, que passaram a comandar seus times diante de um cenário totalmente novo.
“Ajudamos os líderes com algumas ferramentas, como, por exemplo, trilhas de capacitação abordando assuntos, como medo, resiliência e vulnerabilidade. O líder passa pelas mesmas dificuldades que os colaboradores, a diferença é que ele precisa entender isso primeiro para poder lidar com a equipe”
Flávia Pontes, superintendente de pessoas e cultura da DASA
Além disso, a pandemia chegou em meio ao processo de fusão da DASA com a GSC e a Ímpar, o que também demandou esforços da área de gestão de pessoas para integração dos times.
A estrutura tecnológica que a empresa já tinha deu o suporte necessário para a área de recursos humanos conduzir tantas mudanças. “Em 2018, fizemos um investimento grande em sistemas de RH, de comunicação e de treinamento. Os colaboradores já tinham uma jornada quase toda digital, desde o recrutamento, passando pelas avaliações e outros processos, tudo feito via aplicativo, e isso foi fundamental para esse momento atual”, disse a executiva da DASA.
O varejo foi um dos setores mais impactados pela pandemia. Caio Nallini, gerente de gestão de pessoas no Magazine Luiza, contou durante o Conexão Tech que as vendas foram bastante afetadas no início da pandemia, mas aos poucos foi possível recuperar os resultados até que, em junho, a empresa voltou a lucrar. “Crescemos muito no período de pandemia, mesmo com as lojas fechadas. A empresa se tornou líder em categorias de produtos que não era antes e isso foi muito importante”.
A jornada enfrentada nos últimos meses foi repleta de desafios e mudanças não somente na área comercial, mas também do ponto de vista de gestão de pessoas. “Ao longo desses seis meses tivemos diferentes cenários e práticas na gestão de pessoas. No começo da pandemia, com as lojas fechadas, quase todos os funcionários passaram a trabalhar em home office, mas nossa operação logística não parou e daí demos prioridade para os protocolos de saúde e segurança para os trabalhadores. Criamos também o projeto Parceiro Magalu, que trouxe os pequenos varejistas para as vendas online. Foi um período desafiador que a gente precisou olhar para as nossas práticas e para nossa cultura, que sempre foi voltada para pessoas. Fizemos várias ações como, treinamentos, pesquisas de clima, etc. Depois, começamos a reabrir as lojas e hoje um grupo de funcionários já voltou para escritório”, contou Caio.
Caio Nallini, do Magazine Luiza – Foto: Divulgação
A experiência do trabalho remoto se mostrou positiva para a empresa, inclusive comprovada por indicadores. “Os colaboradores tinham o desejo de trabalhar em home office e se sentiram bem nessa situação, o que impactou positivamente na performance. Na última pesquisa de NPS (Net Promoter Score) com pessoal do escritório, centro de distribuição e lojas a nota chegou a 89, um ótimo resultado”, afirmou.
Recentemente, o Magazine Luiza anunciou o primeiro processo seletivo para trainees negros, o que gerou bastante debate no mercado. “O nosso CEO, Frederico Trajano, lançou uma carta explicando os porquês dessa decisão. Fizemos isso para corrigir distorções internas. Temos um gap de líderes negros e a ideia é corrigir isso”.
Essa iniciativa está alinhada à estratégia da companhia em promover, cada vez mais, a diversidade no seu quadro de funcionários. Prova disso, segundo Caio Nallini, é que o Magazine Luiza lançou um treinamento específico para mulheres em tecnologia e linguagem de programação, uma área em que há pouca participação feminina. A primeira turma teve 25 participantes, sendo que 30% foram contratadas. Agora, a companhia acaba de lançar a segunda turma, com 40 vagas.
“O Magazine Luiza é uma empresa muito diversa e nos orgulhamos disso. Estamos em todo o país e nosso quadro de funcionários reflete a diversidade da população brasileira. Mas isso não significa que a gente não tenha oportunidades. Acreditamos que a diversidade impulsiona os resultados”
Caio Nallini, gerente de gestão de pessoas no Magazine Luiza
Cada vez mais o mundo corporativo tem falado sobre ESG, tema que passou a fazer mais sentido na pandemia, trazendo uma nova mentalidade para a gestão, como comentaram os palestrantes do Conexão Tech.
“O ESG ou ASG, em português, aplicado a investimentos significa trazer a análise dos impactos sociais, ambientais e de governança para a análise de risco. O tema veio muito forte com a pandemia, porque as pessoas perceberam que não dá para construir destruindo, tanto que se fala na mudança de um capitalismo de shareholders [prioridade para o lucro do acionista] para o capitalismo de stakeholders [executivos, acionistas, funcionários, clientes, toda a cadeia produtiva e comunidades impactadas pela empresa]”, disse Helena Masullo, responsável por ESG na XP Investimentos.
Segundo Fábio Susteras, sócio da SPCAP Investimentos, o ESG já estava na agenda do mercado desde o início de 2020, inclusive o tema foi destaque no Fórum Econômico Mundial, em Davos.
“Os investimentos estão buscando conciliar o risco, mas com um olhar além – para o planeta, o contexto social e a governança. Isso tem se tornando cada vez mais forte”
Fábio Susteras, sócio da SPCAP Investimentos
Fábio Susteras, da SPCAP Investimentos – Foto:Divulgação
Na pandemia, muitas empresas mostraram como estão atuando nesse sentido, apoiando a construção de hospitais de campanha e fazendo doações, exemplificou Fábio. “ESG não é só uma questão de fazer bonito, mas questão de sustentabilidade das finanças”.
Segundo ele, as startups, em sua maioria, já iniciam seus negócios com essa visão de ESG. “Tem startup que usa o ESG como seu core business, como empresas de mobilidade urbana ou de consultas médicas com preços acessíveis, ou então por demanda dos investidores”, disse o executivo da SPCAP, acrescentando que a nova geração de empresários traz muito forte o desejo de fazer algo pelo meio ambiente e sociedade, de “colocar a mão na massa”. Para as empresas mais tradicionais, a recomendação de Fábio é que também incorporem os critérios de ESG para obterem ganhos a longo prazo.
Na opinião de Helena, da XP, a mentalidade do ESG chegou para ficar, até pelo fato de ser uma demanda dos investidores. “A gente já viu até boicote a empresas brasileiras que não olham para os fatores ambientais, por exemplo. Então é um caminho sem volta”.
Helena Masullo, da XP Investimentos – Foto: Divulgação
No entanto, as empresas não devem esperar resultado no curto prazo. Por isso, é preciso adotar ESG de forma estratégica, com visão de médio e longo prazo, pois isso ajuda, inclusive, a reter talentos e a trazer visibilidade para marca.
Como dica para as empresas – de todos os portes – Helena disse que é preciso identificar os fatores materiais para cada negócio e, a partir daí, direcionar o foco para conseguir gerar valor. Por exemplo: uma empresa de mineração pode definir como foco a preservação da água. Outra recomendação para quem quer implementar ESG é buscar a certificação internacional chamada Sistema B.
“As companhias estão cada vez mais conscientes e precisam considerar ESG no nível estratégico para agregar valor ao negócio. Vamos torcer para que em 2021 este assunto se torne mais forte e não desapareça do debate das companhias”
Helena Masullo, responsável por ESG na XP Investimentos
Nesse momento de tantos desafios, a tecnologia tem sido protagonista para apoiar as empresas em suas atividades internas e atender da melhor forma os clientes. Tanto que aquelas que estavam menos preparadas do ponto de vista tecnológico, acabaram sentindo um impacto maior da crise. Muitas empresas que não tinham e-commerce, por exemplo, tiveram mais dificuldades e custos elevados para lançar uma operação online em tempo recorde, comentou Andrés Avila, da Zebra Technologies, companhia global que oferece soluções tecnológica para diversos setores, como varejo, comércio eletrônico, manufatura, transporte e logística, saúde, entre outros.
Por isso, a tecnologia sempre será uma aliada das empresas, ajudando na sustentabilidade dos negócios.
“O importante é alinhar a tecnologia à estratégia e aos objetivos do negócio. Você precisa verificar se o uso da tecnologia impacta realmente a operação, se ajuda os colaboradores e dá um diferencial em relação à concorrência”
Andrés Avila, marketing manager da Zebra Technologies
Andrés Avila, da Zebra – Foto: Divulgação
Segundo o executivo, no varejo, por exemplo, setor em que a maioria das lojas migrou para e-commerce, o desafio será como gerenciar a cadeia de suprimentos e como trabalhar a última milha para entrega ao cliente. “Esses processos precisam de tecnologia para funcionar de forma adequada, eles precisam de informação em tempo real e conectividade desses fluxos com o pessoal de linha de frente e também com os tomadores de decisão para reagir com antecedência às incertezas”.
Durante o Conexão Tech, Andres destacou que a pandemia foi um momento de reinvenção e aprendizado para a Zebra, que enxergou novas perspectivas e oportunidades. “A pandemia gerou uma crise para todos, mas ajudou a pensar diferente, a desenvolver soluções e projetos que não teríamos feito se não tivéssemos vivido essa situação”, concluiu.
Confira o próximo Conexão Tech, que será realizado no dia 20 de outubro com o tema “Lá vem ela, a inovação!”.
Foto de abertura: Eliane Cunha
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