Pessoas com um propósito de vida acumulam uma dose adicional de energia para fazer o que precisam. Afinal, elas têm clareza sobre onde querem chegar e o que querem alcançar, fazendo com que o planejamento ganha um significado maior.
Esse conceito extrapolou os limites da vida privada e passou a ser incorporado mundialmente nos negócios.
Num cenário no qual boa parte dos consumidores se enquadra nas gerações Y ou Z, reconhecidas por se importarem muito mais com realizar algo significativo do que com status e dinheiro, a busca de um propósito se fortalece nas organizações.
Em uma empresa, o propósito pontua o real sentido dos esforços e mostra a contribuição da companhia com a sociedade.
Segundo a sócia-fundadora da Stratlab, Fernanda Nascimento, um propósito verdadeiro e tangível dá motivos palpáveis para que decisões sejam tomadas e tarefas executadas.
“O propósito inspira, mas de forma diferente de missão, visão e valor, que descrevem onde a empresa quer estar nos próximos anos e a cultura desejada. Enquanto os valores são a bússola, o propósito dá aos colaboradores um conjunto de orientações”, afirma Fernanda em entrevista ao Portal de Notícias GS1 Brasil.
Portanto, propósito não é objetivo, meta e muito menos o trabalho. “Propósito é o que você nasceu para realizar, a sua missão em vida, a contribuição que vai deixar para as pessoas e mundo ao seu redor. Por isso, ao invés de perguntar ‘Qual é o meu propósito’, uma pergunta muito mais assertiva nessa busca seria ‘O que de melhor posso fazer para ajudar as pessoas e o mundo ao meu redor?’”, diz o palestrante e autor de livro Vivendo de Propósito, Arnaldo Neto.
O propósito tem um cunho motivacional importante no mundo dos negócios. Ele deve ser definido por seus públicos externo e interno, considerando, assim, consumidores finais e colaboradores.
“Os clientes externos devem orientar o propósito por meio de pesquisas, observação do público e dilemas que enfrentam. A empresa precisa ser capaz de resolver problemas reais e, quanto mais impactante a solução, maior a oportunidade de atingir resultados superiores”, aconselha Fernanda, da Stratlab.
O propósito também pode encantar os consumidores que tenham sinergia com as propostas da empresa, fazendo com que o retorno financeiro seja uma consequência.
“Em uma época em que a economia da experiência rege os negócios, produto, serviço e preço não são mais determinantes para garantir a escolha do cliente. O propósito tem o poder de gerar uma conexão afetiva com a marca e, desta forma, ganhar a preferência”, opina a executiva da Stratlab.
Arnaldo Neto reforça que a busca por conexão é algo inerente ao ser humano. “Quando uma empresa tem um propósito claro que é corroborado por ações, o consumidor que se identifica com tal causa vai querer fazer parte daquela história”.
Vale lembrar que não há espaço para mentiras na relação com o consumidor. “Prometer algo que a empresa não será capaz de entregar gera frustração e o sentimento de “ser enganado”, o que afasta o cliente”, alerta Fernanda.
Para que o propósito da companhia seja aplicado com sucesso, os colaboradores exercem um papel fundamental. Portanto, eles devem compactuar os ideais e estarem dispostos a defendê-los.
Mas, na prática, o que muitos CEOs e facilitadores esquecem no processo de descoberta de propósito de uma organização é gerar alinhamento com o propósito individual do funcionário.
Por isso, segundo Arnaldo Neto, os principais passos para colocar os propósitos em prática são:
1) reconhecer o propósito da empresa;
2) reconhecer o propósito de cada colaborador;
3) gerar alinhamento entre ambos.
“Com propósitos macro e individuais alinhados, os colaboradores não vão encarar a iniciativa como regras e imposições. Pelo contrário. Se sentirão parte da construção e farão o possível para colocá-los em prática”, justifica Neto.
E assim como acontece com os consumidores, os colaboradores, igualmente, não podem ser ludibriados com um propósito ‘de fachada’.
“Quando um funcionário descobre que a empresa criou um cenário não real para atrair talentos, ele se desmotiva e, muitas vezes, deixa a empresa”, adverte Fernanda.
Uma vez que o propósito de uma companhia está claro e definido, ele pode ser usado como uma ferramenta de tomada de decisões.
O autor Arnaldo Neto fornece um exemplo.“Supondo que uma empresa tem dúvidas sobre qual projeto investir, ao invés de impulsivamente olhar para qual pode gerar mais retorno financeiro, uma prática muito mais sustentável seria deliberar sobre qual deles está mais alinhado com o propósito da empresa, ou seja, com o impacto que quer gerar”, explica o palestrante. Portanto, nesse sentido, o propósito está conectado com a sustentabilidade.
“O propósito deve ser sustentável e a empresa precisa se organizar através de processos que assim o façam”, adverte Fernanda.
Ser sustentável implica em investir em práticas ambientais ou emocionais que possam se manter ao longo do tempo. Arnaldo Neto lembra que o propósito não pode ser definido como uma frase de marketing, slogan ou pitch de vendas.
“O propósito precisa considerar o impacto que a empresa quer gerar e isso deve ser reconhecido a partir da coleção dos momentos em que a organização mais contribuiu com o mundo, com as pessoas e com os próprios funcionários”, finaliza Arnaldo Neto.
Fotos: Getty Images
Leia também: Marc Tawil mostra o poder do propósito para o empreendedor
Send this to a friend