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Segunda edição do Conexão Tech discutiu tendências de inovação

O ano de 2020 tem sido desafiador em vários sentidos para as empresas. Em um cenário imprevisível, foi preciso reinventar a forma de fazer negócios e conduzir os processos internos. As recentes transformações causadas pela pandemia trouxeram uma única certeza: é preciso investir em inovação e torná-la cada vez mais integrada aos modelos de negócios.

Para chamar a atenção para este assunto tão importante, a GS1 Brasil promoveu no dia 20 de outubro a segunda edição do Conexão Tech com o tema “Lá vem ela, a inovação”. Com formato digital, o evento também propiciou um debate sobre open innovation (inovação aberta), que se tornou a estratégia da vez, e os vários desafios enfrentados pelas empresas em sua trajetória de inovação.

debora freire da dfreire no conexao tech da gs1

Débora Freire, da DFreire Comunicação, conduziu o debate sobre inovação

Para compartilhar conhecimentos e experiências sobre o tema, a GS1 reuniu neste encontro os seguintes convidados: Gil Giardelli, professor, escritor e co-fundador da 5Era; Jorge Pacheco, fundador e CEO do hub de inovação STATE; Victor Vendramini, responsável pela área de negócios da Nestlé Health Science América Latina; Irineu Fernandes, CEO da GIC Brasil; e André Campos, CIO do Giga Atacado. A jornalista Débora Freire, CEO da DFreire Comunicação e Negócios, conduziu o bate-papo com os painelistas, fazendo a interação com o público.

A segunda edição do Conexão Tech teve o patrocínio da GIC, além do apoio da Korde, Vércer e Activa-ID. Também contou com os parceiros da DFreire Comunicação e Negócios, Agência Beato e Totalinks.

Confira as principais tendências e dicas sobre inovação compartilhadas pelos convidados do Conexão Tech.

Gil Giardelli: tendências de inovação

Nos últimos meses, pessoas, empresas e governos precisaram lançar mão da inovação e da tecnologia para se adaptar aos tempos de crise e pandemia. Gil Giardelli, professor, escritor e co-fundador da 5Era, fez uma breve análise deste momento durante o Conexão Tech.

“Tivemos um choque de realidade, entramos no mundo ‘fisital’, que une o digital com o físico. Um mundo totalmente híbrido onde as fronteiras da Inteligência Artificial e dos robôs humanoides chegaram de fato. Só na Coreia do Sul pós pandemia foram lançados mais de 60 modelos de robôs sociais, aqueles que ficam na casa das pessoas. Falamos agora na chamada ‘inovação dos comuns’, que é a inovação onde nenhum de nós é tão inteligente quanto todos nós juntos. É uma mudança como nunca vista”, disse.

gil giardelli no conexao tech da gs1

Gil Giardelli

Esse choque foi ainda maior em alguns segmentos que eram mais resistentes à inovação, como no varejo. “Muito mais do que a transformação digital, temos que pensar numa nova sociedade, que tanto no G20 quanto no ambiente acadêmico já se fala da Sociedade 5.0. Muito mais que a transformação do varejo, é a transformação de como colocar as pessoas no centro. Daí sai o B2B, o B2C e entra o human to human”, afirmou.

Giardelli explicou que o conceito human to human (H2H) surgiu há 13 anos em uma pesquisa realizada pelo governo britânico, que identificou que as pessoas não queriam ser tratadas como clientes ou súditos. “Era o início do fim da ‘era do ter’ para a ‘era do pertencer’. Por isso, vemos muitas marcas de varejo mais preocupadas com a comunidade; a venda ocorre como consequência. Hoje, das 500 maiores empresas da Fortune, cerca de 270 usam a humanidade como conceito”.

Outra tendência abordada pelo especialista foi a inovação ligada à sustentabilidade. “Um novo conceito é o de green inovation, que é usar tecnologias verdes e cognitivas para que cidades e países comecem a se preocupar com mudança climática, desigualdades sociais e outros fatores ligados a cidades inteligentes. Isso já acontece em uma cidade-teste no Japão, em Dubai e na China”, contou. Segundo ele, na prática, isso significa utilizar, por exemplo, robôs humanoides e produzir alimentos em fazendas verticais, mas, principalmente, fazer uma conexão entre o meio ambiente e as pessoas.

“A grande utopia do século 21 é deixar nosso meio ambiente de pé. O Brasil vai ter que despertar para esse conceito de green innovation”, destacou.

Pensando na inovação no ambiente corporativo, Gil Giardelli chamou a atenção para alguns pontos. “As lideranças das empresas foram preparadas para serem super heróis ou super heroínas, eles precisavam saber tudo. Agora temos a liderança em rede, no qual o líder não precisa enfatizar apenas a produtividade, mas também a criatividade, a colaboração e a inclusão”.

De acordo com o especialista, antes se valorizava o líder perfeito; hoje, o que mais se espera de uma liderança é honestidade e humildade. “Temos que investir nas próximas gerações de líderes para que elas possam ter essa honestidade e humildade de falar ‘eu não sei’ e chamar pessoas de fora para ajudar. Isso tem a ver com a questão da inovação aberta”, enfatizou.

Nesse sentido, Gil Giardelli aconselha: “A liderança tem de criar um ambiente para que as boas ideias possam surgir. A curiosidade leva à criatividade, que leva à inovação.  Então é importante criar no público interno o prazer da curiosidade, da discordância e do debate de ideias”.

E isso vale para empresas de todos os portes. “Não existe tamanho para inovar. Chegou o momento de pensar a inovação, porque só focar na eficiência produtiva e financeira não está fechando as contas das empresas de nenhum tamanho”, afirmou Gil Giardelli.

Nestlé Health Science: inovação aberta como estratégia

A inovação é fundamental para a Nestlé Health Science, que trabalha com um portfólio de marcas de suplementos, nutrição médica e saúde do consumidor, com respaldo científico. Para isso, diante de desafios reais de negócios, a companhia investe em processos de inovação aberta em conjunto com parceiros.

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Victor Vendramini, da Nestlé Health Science

“O conceito de inovação aberta surgiu com Henry Chesbrough. Antes, as empresas acreditavam que conseguiam reter os melhores talentos e fazer os melhores desenvolvimentos. Mas, com o passar do tempo, com a hiperconexão e o turn over da mão de obra, isso deixou de ser uma realidade. A partir disso, a gente começou a ver que existe uma rede e que empresas gigantes como a Nestlé não têm a obrigação de ter pessoas que vão dominar todos os processos de inovação que existem no mercado. É muito mais produtivo contar com outras empresas, sejam startups ou não, que tenham essa expertise. Isso é um pouco de como vemos a inovação aberta”, explicou Victor Vendramini, responsável pela área de negócios da Nestlé Health Science América Latina durante o Conexão Tech.

Segundo ele, o ponto de partida para a inovação aberta é sempre uma necessidade ou ‘dor’ específica. “A partir disso vemos quais startups podem nos ajudar e tudo se começa testando. Primeiro, identificamos uma oportunidade de trabalho e começamos a testar com um piloto, com uma MVP, para fazer a primeira implementação, mensurar resultados e ter os aprendizados. Depois, seguimos para uma próxima etapa, que é avaliar os objetivos de negócio, resumiu Victor.

Para incentivar a inovação, é importante criar uma estratégia e um ambiente propício dentro da empresa, ajudando os colaboradores a criar esse novo mindset. “Uma das formas que a Nestlé encontrou para fazer isso foi um processo formal de inovação aberta. Na minha unidade de negócios, criamos o primeiro programa de aceleração de startups de health no Brasil, antes de fazer o roll out para outros países. Identificamos problemas reais de negócios e recrutamos duas startups, dentre o total de inscritas. Foi um sucesso”, disse Victor, acrescentando que, em breve, será anunciado o processo de inovação aberta de 2021 da Nestlé Health Science.

O executivo da Nestlé deixou uma dica: “Não precisa ter o mundo perfeito para começar a inovar, pode começar pequeno. Nas empresas, sempre há pessoas com perfil inovador e também com coragem e humildade. Dê desafios e estimule essa pessoa a criar soluções. Se der certo, você expande para toda a empresa. Nunca é tarde para começar a inovar, mas é uma corrida longa”.

STATE: foco na inovação da indústria e biotecnologia

Inovação aberta também faz parte da rotina do STATE, um hub de inovação com uma proposta diferente de outros espaços similares. Instalado em um galpão de uma antiga indústria na capital paulista, o STATE tem foco em projetos com hardware, indústria e biotecnologia.

“Nosso objetivo como hub de inovação é ser um lugar que abrace startups e grandes empresas que querem realizar projetos que vão além da inovação baseada em software”, explicou Jorge Pacheco, fundador e CEO do STATE, durante o Conexão Tech.

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Jorge Pacheco, do STATE

Com a pandemia, a inovação científica ganhou maior relevância. “Temos um grande potencial a ser explorado no Brasil. Temos a maior reserva de biodiversidade do mundo. Somos o 17° país em pesquisa científica, porém ocupamos a 60° posição no ranking de inovação.  Produzimos muitas pesquisas, mas elas ficam nas universidades, não vão para o mercado, não viram produto. E isso acontece por falta de infraestrutura, temos apenas dez laboratórios no País considerados de alta infraestrutura”, analisou Jorge.

Nesse cenário, o STATE pode ajudar a impulsionar o chamado empreendedorismo de base científica, apoiando os cientistas em suas pesquisas. “Criamos uma espécie de coworking de máquinas de laboratório para startups de ciência e biotecnologia, especialmente em estágios iniciais. A pessoa reserva o espaço pelo app, sem burocracia e paga pelo uso. E o laboratório não fica com a propriedade intelectual do empreendedor, como ocorre nas universidades”, disse Jorge.

Para as pequenas empresas que estão começando suas atividades no mercado, o CEO do STATE recomenda que apostem na inovação aberta. “É difícil fazer as coisas sozinho. É preciso de colaboração para o negócio dar certo e entregar o melhor produto ou serviço, principalmente no caso de uma pequena empresa, que tem uma série de restrição de recursos, seja financeiro, seja de talentos, entre outros. Minha sugestão é já começar colaborando com outras empresas do mercado, tentando entender onde consegue suprir uma carência e onde pode ajudar outros negócios, criando um verdadeiro elo”.

GIC: inovação sob medida para o varejo brasileiro

A cultura de inovação já faz parte do dia a dia de alguns setores; outros ainda estão amadurecendo nesse aspecto, como o varejo. Com a pandemia, os varejistas se convenceram sobre a importância da tecnologia e da inovação, apesar de ainda enfrentarem restrições financeiras para esse tipo de investimento.

A GIC Brasil, empresa que atua há 20 anos no mercado com foco em soluções de automação para supermercados e atacarejos, está atenta a essa característica do mercado nacional.

irineu fernandes da GIC no conexao tech

Irineu Fernandes, da GIC

“Procuramos entender as inovações tecnológicas lá fora, que estão avançando de forma muito rápida, e trazemos para o Brasil. Mas os custos de um robô ou de uma câmera, por exemplo, são muitos altos, por isso temos que adaptar a inovação para a realidade brasileira”, contou Irineu Fernandes, CEO da GIC, durante o Conexão Tech.

Desde 2008, a GIC adota essa estratégia, adaptando soluções para apoiar a gestão e a movimentação de produtos nas lojas física com valores que cabem no orçamento dos varejistas.

Continuando com esse foco, recentemente criou um laboratório de inovação e tecnologia. “Estamos desenvolvendo robôs e câmeras que vão fazer a captura automática das imagens dos produtos na gôndola. Essas câmeras são adaptadas dentro do custo e das condições do varejo brasileiro”, contou Irineu.  “Nossa missão é mudar o conceito do varejo com valores acessíveis, porque o varejo está interessado sim em inovar”.

Na análise do CEO da GIC, o varejo acelerou o uso das ferramentas tecnológicas e apostou no e-commerce, em função da pandemia. No entanto, muitas empresas não tinham o suporte adequado na retaguarda da operação. “Vimos muitos problemas de atrasos, demora na preparação da mercadoria, produtos errados sendo entregues. Hoje estamos desenvolvendo uma ferramenta para suprir a parte de logística e entrega, que ainda não é bem atendida”, contou Irineu.

Giga Atacado: crise gerou oportunidade de inovação

Assim como o varejo, o segmento do atacado, de maneira geral, começou recentemente a apostar em inovação. O fato de o modelo de negócio do atacado ser baseado em oferecer produtos com preços mais acessíveis, faz com que as empresas trabalhem com margens muito apertadas, gerando uma barreira para a inovação. Por conta disso, os atacadistas investem mais na inovação com foco em obter eficiência operacional e menos na digitalização.

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André Campos, do Giga Atacado

No entanto, nos últimos tempos, os players do setor vêm mudando essa visão, como é o caso do Giga Atacado, que possui 10 lojas no formato atacarejo em São Paulo. A empresa apostou no conceito de open innovation. “Tomamos a decisão de tornar as nossas ferramentas em produtos comercializáveis e criamos a startup Giga Tech para acelerar a inovação”, contou André Campos, CIO do Giga Atacado, durante o Conexão Tech.

Dessa forma, a empresa vem descobrindo novas oportunidades, apesar da crise. “Entendemos que criar uma startup dentro do Giga para vender produtos de tecnologia e inovação que a gente usa no nosso dia a dia era uma oportunidade muito grande neste momento em que todos querem melhorar os serviços e a forma como interagir com os clientes. Tudo isso foi pensado e estruturado de uma forma muito rápida por conta da pandemia e já temos alguns parceiros que em outros tempos seriam encarados como concorrentes. Mas, por que não compartilhar boas experiências? Por que não aprender com eles também? Esse é o pano de fundo da criação da Giga Tech”, contou André.

Outra novidade é que o Giga Atacado está criando um marketplace próprio para agregar sellers do mesmo segmento. Segundo o CIO, a iniciativa tem previsão de implementação no primeiro trimestre de 2021.

Para finalizar, o executivo do Giga Atacado compartilhou um aprendizado: “Os líderes das empresas devem se inserir nos ecossistemas de inovação e começar a fazer tanto a inovação interna quanto por meio de parcerias. Do contrário, será muito difícil acompanhar as expectativas dos clientes.”

Confira o próximo Conexão Tech, que será realizado no dia 10 de novembro com o tema “Empresas que nadam na tecnologia”.

Fotos: Eliane Cunha

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