Em 2019, a economia andou devagar, mas as startups aceleraram no cenário nacional. O sucesso tem uma fórmula: essas empresas de base tecnológica e que oferecem soluções digitais muito focadas na resolução de um problema têm alto poder de adaptação e entrega de valor.
As startups adotam novos modelos de negócios, escaláveis com base em tecnologia, o que torna o custo operacional mais barato do que o das empresas tradicionais. “O que define uma startup não é tempo que ela tem de mercado ou faturamento, mas a forma como capta dinheiro, o crescimento de base tecnológica e se ela usa métodos ágeis na gestão do dia a dia”, diz o presidente da Associação Brasileira de Startups (Abstartups), Amure Pinho.
Não é à toa que nos últimos anos, o número de startups no Brasil aumentou 207%, segundo dados da Abstartups. Em 2015, o número registrado era de 4.151 empresas nascentes, hoje, são 12.782.
Desse total, 10 se tornaram unicórnios (as startups avaliadas em mais de US$ 1 bilhão) recentemente.
Em 2018, se tornaram unicórnios: 99 (transporte), PagSeguro e Stone (meios de pagamento), NuBank (serviços financeiros) e iFood (delivery de alimentos). No ano de 2019 nasceram mais cinco: Loggi (entregas), Gympass (assinatura de academias), Quinto Andar (aluguel de residências), Ebanx (processamento de pagamentos), e Wildlife (games para celular).
“As startups são muito focadas e conseguem resolver problemas rapidamente. Nubank, 99 e iFood não existiam há quatro anos, por exemplo. Esse crescimento está movimentando todos os setores, por várias razões: porque todos têm problemas para serem resolvidos, porque hoje todos têm um celular na mão, porque o ecossistema de startups está mais maduro, porque as startups atraem talentos. O capital do setor está retroalimentando as próprias startups. Os investimentos estão acontecendo neste momento”, analisa Pinho.
Para o presidente da Inova Business School, Marcelo Veras, as startups são quase uma epidemia, mas no bom sentido. “Não tem idade para startup, pode ser um jovem ou um senhor de 60 anos. Não tem região do País, basta ter uma ideia para poder testá-la. É um caso inspirando outro e há instituições de todo tipo, do Sebrae ao Founder Institute, que ajudam as empresas nesse sentido”, afirma.
De acordo com estudo da Abstartups, os setores com maior número de soluções de startups são: educação (7,15%), finanças (4,13%), saúde e bem-estar (3,67%), internet (3,22%) e agronegócio (3,15%).
A tendência é de crescimento em todos os segmentos. “Os setores que terão destaque nos próximos anos são saúde, agronegócio, indústrias, logística, seguros. Nessas áreas há ineficiências no Brasil e as startups devem resolvê-las”, diz Pinho.
As startups focadas no público B2C podem resolver muitos problemas da população. Mas também ganha destaque aquelas que atuam no B2B. Aliás, em busca de inovação, as empresas tradicionais se aproximam delas para conseguir transformar seus negócios.
Segundo a Abstartups, 48% das startups brasileiras atuam com foco no mercado B2B, enquanto 27% são voltadas para B2B2C e 20% para B2C.
“A maioria das empresas tradicionais não é inovadora. Elas dominam o mercado e fazem muito bem o que criaram, são hierarquizadas e estão acima do bem e do mal. Só que muitas gigantes que eram ícones de mercado viraram pó porque veio uma startup e criou algo melhor. Por isso, muitas empresas já entenderam que precisam se juntar a essa nova economia para não morrer. Todas estão em busca desse jeito startup de ser”, constata Marcelo Veras.
E como é esse jeito? Estrutura enxuta, modelo ágil de testar soluções e todos atuando na linha de frente. “Sem perder a sua essência, as empresas tradicionais têm de aprender com as startups”, completa Veras.
A Spin, empresa que nasceu em 2017 e atua como aceleradora, investidor anjo e consultoria de inovação, trabalha com foco em aproximar indústrias das 64 startups que têm no portfólio.
“Do ponto de vista da Spin, a verdadeira transformação virá com as startups B2B ou B2B2C. São elas que vão fazer as indústrias mais competitivas e a se comunicar melhor com o consumidor final, que é uma dor que todas empresas têm”, afirma o CEO da Spin, Beny Fard.
O estudo Mapa Startup + Indústria, realizado com startups nacionais com soluções para indústrias, mapeou 295 startups em 22 estados. Desse total, 20% têm soluções orientadas para redução e custos, 18% para o aumento da eficiência operacional e 13% ao aumento as vendas e/ou dos lucros.
“No médio prazo, as indústrias de forma geral vão se relacionar cada vez mais com as startups, com forte tendência das startups B2B, que são robustas e conseguem impactar a forma como consumimos tecnologia direta ou indiretamente”, diz Fard.
Tanto otimismo com as startups teve um revés este ano, depois que Uber e We Work fizeram a abertura de capital, nos Estados Unidos, e perderam valor. Com isso, o mercado começou a falar em uma bolha de startups.
“Bolha existe em todos os segmentos. Alguns modelos de captação de recursos foram colocados em xeque, como no caso do Uber, que capta muito dinheiro, mas não tem uma situação financeira boa. Lá fora o capital é muito mais abundante e pode acabar criando esse tipo de situação”, comenta Amure Pinho.
Mas, segundo ele, no Brasil é diferente. “Como aqui não tem capital tão abundante quanto lá fora, a relação entre criação de startup, faturamento e receita é bem melhor gerida. Os empreendedores brasileiros aprenderam isso desde o início”, afirma.
“O mercado de Wall Street está mandando um recado para as startups do Vale do Silício, que é: não façam IPO se não estiverem dando lucro. E, com isso, também manda uma mensagem para o mercado global: investidores devem ter cautela maior em startups que não tenham resultado de fato. No curto prazo, as startups B2C tendem a sofrer mais pressão no mercado para mostrar dados antes de sair captando milhões em investimento”, acredita Beny Fard.
Para ele, com a Selic baixa no Brasil, a tendência é que os investidores procurem startups com melhor performance e lucros.
As startups deram o que falar em 2019. Foram muitas notícias, eventos e até um reality show na TV Bandeirantes, o Planeta Startup, no qual startups dos mais diversos segmentos buscaram aceleração e investimento em seus negócios. Esse ritmo de expansão deve continuar em 2020.
“Neste mercado que atrai capital, e agora com 10 unicórnios brasileiras, faz sentido esperarmos crescimento para os próximos anos. Para 2020, esperamos forte injeção de capital em setores como fintechs, agtechs e healthtechs. O setor vai aproveitar o momento do Brasil para trazer mais tecnologias inovadoras e esperamos o nascimento de novos unicórnios”, aposta Amure Pinho, que foi um dos jurados do reality Planeta Startup.
Para 2020, Beny Fard, da Spin, aponta o crescimento das fintechs, principalmente daquelas que atuam na área de crédito. “Startups de logística e mobilidade também devem crescer por causa da precariedade da infraestrutura logística nacional. Devemos ter alguma novidade em startups de alimentos à base de plantas”, aposta. Ele também acredita no surgimento de mais unicórnios brasileiras em 2020.
O próximo ano promete, ainda, novidades em relação ao marco legal para startups, uma série de regras para definir as normas e boas práticas do setor. A proposta feita pelo Governo Federal está em discussão desde março de 2019 quando foi lançada uma consulta pública para ajudar na construção de um projeto de lei que criará o marco legal das startups.
Imagens: iStock
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