Ernesto Krug, da Cooplib. Foto: divulgação
A produção agropecuária do passado é muito distinta do que se vê nas propriedades atualmente. Há alguns anos, o agronegócio estava diretamente relacionado com grandes propriedades mantidas manualmente.
Hoje, a tecnologia domina o campo trazendo uma nova realidade para o produtor rural, que consegue ser mais produtivo com menos recursos, graças à automação.
Para analisar essa nova realidade, o presidente da Cooperativa de Trabalho dos Profissionais Liberais do Brasil (Cooplib) e ex-presidente da Associação Gaúcha de Laticinistas e Laticínios (AGL), professor Universitário Ernesto Krug, concedeu uma entrevista ao Portal de Notícias da GS1 Brasil para explicar como a tecnologia, inovação e mudanças estão diretamente relacionadas com a força deste setor.
“Já estamos falando em Agricultura 5.0, que começa a todo o vapor e é uma realidade. O setor do agronegócio evoluiu muito tecnologicamente, usando tecnologias de aumento de produtividade, otimização da produção e eficiência, como a inteligência artificial, que deve trazer um grande avanço para a área”, disse o especialista.
Acompanhe, a seguir, os principais momentos deste bate-papo.
Hoje, é muito grande a preocupação no agronegócio brasileiro uma vez que ele representa 21,4% do Produto Interno Bruto (PIB) do País. Representa, ainda, 37% dos empregos formais. Além disso, suporta a Balança Comercial.
Para se ter uma ideia, no último do ano, mesmo com toda a crise, alcançamos 87% de superávit e a maior parte disso foi obtido através do agronegócio. Neste ano, por exemplo, está representando 46%.
Até 2050, a previsão da necessidade de aumento da produção mundial de alimentos é de 70%. Nesse sentido, o setor continua tendo apoio do Governo, representado pela Ministra de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina Correa da Costa Dias, que é bastante visionária e tem aberto mercados novos.
Tanto é que o Brasil tem aumentado a linha de frente em vários países por meio da exportação. Isso sem contar o nosso potencial de diversidade e clima, que permitem produzir todos os alimentos que o povo brasileiro precisa.
Somados a toda essa realidade, temos mais de 100 milhões de hectares ainda agricultáveis a explorar, o que nenhum país no mundo tem.
Então precisamos estimular, cada vez mais, as pesquisas e as inovações tecnológicas. Nesse sentido, a GS1 Brasil tem papel enorme a cumprir com novas tecnologias, garantindo automação cada vez maior do setor. E automaticamente nós vamos ter aumento de produtividade, redução dos custos de produção, dos impactos ambientais e de perdas devidas a problemas climáticos, de colheitas, de transporte e no consumo , nos tornando cada vez mais competitivos.
Já somos os maiores exportadores de suco de laranja, café, açúcar, soja e carnes de frango, boi e suínos. Só que esse modelo exportador, embora resistente, precisa garantir mais processamento, para agregar empregos e renda no Brasil.
Já estamos falando em Agricultura 5.0, que começa a todo o vapor e é uma realidade. O setor de agronegócio evoluiu muito tecnologicamente, usando tecnologias de aumento de produtividade, como a inteligência artificial, que deve trazer um grande avanço para a área.
Aqui na região Sul do Brasil, por exemplo, a agricultura de precisão está presente em grandes e médias propriedades; e as cooperativas estão trabalhando muito para que o pequeno e médio produtor também tenha acesso a esta inovação.
Hoje, já temos máquinas que não têm volante, com programação GPS; na colheita da soja, enquanto o produto é extraído, já conseguimos extrair uma amostra que aponta qual metro quadrado precisa ser mais adubado e com que nutriente; e os drones são capazes de fazer a vistoria da lavoura a fim de detectar focos de insetos ou uma doença, isso tudo sem poluir o meio ambiente e gastar menos, tornando-se mais competitivo e aumentando sua renda
Temos máquinas eficazes como em qualquer País do mundo. É uma evolução inimaginável.
Hoje, por exemplo, temos um sistema de compostagem, de alojamento de animais, completamente sustentável e capaz de eliminar todo e qualquer inseto e cheiro. A fermentação ocorre no próprio local e não cria moscas. O bem-estar do animal é maravilhoso e todo controlado por um sistema integrado de controle de calor, ventilação, umidade e do manejo do rebanho automatizado.
Além disso, a ordenha é mecânica e automatizada e de autocontrole. Temos robotização para tirar leite funcionando maravilhosamente bem. Assim, o produtor não precisa levantar de madrugada para tirar leite e fazer o mesmo processo no período da tarde. A vaca vai até o robô quantas vezes quiser e se ordenha, por si só, em média, três vezes ao dia, aumentando a produtividade em de 10% a 20%.
Existem muitos caminhos para a agricultura digital e temos condições de ser altamente competitivos com qualquer país em diferentes cadeias produtivas do agronegócio brasileiro.
Eles não têm resistência. Falta poder de compra, apesar das tecnologias de inovação estarem, sim, mais acessíveis. Então o melhor a se fazer é definir algumas prioridades de automação no negócio e começar por elas.
Outro ponto sensível é de que precisamos de uma conectividade melhor e maior. Às vezes, a fazenda sede tem sinal de internet, mas na lavoura não tem, o que limita o uso da tecnologia.
Mas o sistema cooperativo, que hoje é responsável por 54% do que se produz no País, faz esse meio de campo para auxiliar o pequeno e médio produtor.
Temos pequenas propriedades na área do próprio leite que garantem produtividade superior às médias ou grandes propriedades.
Essa é uma necessidade indiscutível e o produtor tem total consciência disso: ou ele adere ou estará fora da atividade. Então está correndo atrás. E essa compreensão existe em nível nacional, inclusive na esfera governamental.
Esse é o primeiro ponto: a educação, a formação e a qualificação do produtor e de todo o meio rural. Hoje, se pegarmos uma máquina super moderna, que vale milhões de reais, você precisará de um profissional capacitado para manuseá-la. Até por isso muitos jovens estão se voltando ao meio rural.
Os pais, donos das propriedades, estão sentindo esta necessidade de transformação digital, mas não conseguem mais acompanhar esses avanços e passam, assim, essa responsabilidade aos filhos, que praticamente nasceram digitais e retornarão para as unidades produtoras.
A rastreabilidade é um fator de competitividade mundial em qualquer área. Temos, no Rio Grande do Sul, uma cooperativa que produziu o primeiro leite rastreável do mundo, desde a propriedade até chegar na casa do consumidor. A rastreabilidade vai ser, cada vez mais, importante para a confiança nos produtos.
Anos atrás fui a uma boutique de carnes na França e os produtos tinham passaporte, indicando onde o animal nasceu, quando, como foi criado e alimentado…Informações que vão ser cada vez mais exigidas pelo consumidor.
Na medida em que avançamos nisso, vamos ter mais mercado. E o Brasil tem um grande espaço, altamente competitivo, nesta nova jornada. Um mundo cada vez mais digitalizado, mecanizado e personalizado!
Foto: iStock
Agronegócio busca soluções de IA, Big Data e Machine Learning
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