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Como as PMES podem contornar as dívidas na pandemia?

A dívida total das empresas mais afetadas pela pandemia no Brasil soma R$ 900 bilhões. Deste total, R$ 556 bilhões são dívidas com o sistema financeiro nacional, segundo dados do Banco Central (BC), informados pelo diretor de Fiscalização da instituição, Paulo Souza, em entrevista coletiva virtual, em abril.

Quando se observa a realidade das Micro e Pequenas Empresas (MPEs), esse cenário pode ainda mais acentuado.

Marcos Crivelaro, do Centro Universitário FIAP Foto: Divulgação

O professor de finanças e economia do Centro Universitário FIAP, Marcos Crivelaro, comenta que a situação financeira da maioria dos pequenos negócios (73,4%) não estava boa antes da crise da Covid-19, segundo dados da pesquisa “O Impacto da pandemia de coronavírus nos Pequenos Negócios – 2ª edição”, desenvolvida entre 3 e 7 de abril, pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).

“O levantamento indica que, para quase a metade dos empresários (49%), as finanças estavam razoáveis, enquanto para 24,4% elas estavam ruins. A pandemia do novo coronavírus mudou o funcionamento de 5,3 milhões de pequenas empresas no Brasil, o que equivale a 31% do total. Outras 10,1 milhões, ou 58,9%, interromperam as atividades temporariamente”, detalha Crivelaro à reportagem do Portal de Notícias GS1 Brasil.

Além disso, reforça o professor, 88% dos empresários de micro e pequenos negócios de todo o País viram o seu faturamento cair durante o período de isolamento social.

Portanto, com a crise de saúde global, muitos empreendedores se perguntam como lidar com a Covid-19 e o seu impacto nos negócios, buscando caminhos para proteger a saúde da equipe e, ao mesmo tempo, manter as contas em dia.

“Quando a empresa passa a gerar caixa negativo, quanto mais juros e amortizações, menor o lucro e geração de caixa. Isso pode piorar se não houver gestão efetiva das linhas do resultado (receitas, custos, gastos com vendas e administração). Assim, chega-se em determinado grau de risco que as instituições bancárias cortam o crédito, levando ao não pagamento das obrigações e falta de recursos para comprar matéria-prima ou pagar empregados”, alerta a doutora em Administração pela FEA-USP e professora do Programa de Capacitação de Empresas em Desenvolvimento (ProCED) da FIA, Dariane Fraga.

Como detectar se sua empresa está em risco de falência?

Dariane Fraga, do ProCED/FIA Foto: Divulgação

A falta de capital de giro, causada pela geração negativa de caixa, de modo geral, é o principal motivo que tem levado os pequenos negócios a se endividarem durante esta pandemia, na avaliação de Dariane Fraga.

“A ausência de capital de giro é motivada pela dificuldade na gestão do negócio como um todo. Além disso, vemos que a parte estratégica e financeira das empresas têm pouco foco dos gestores, faltando mecanismos de planejamento e controle financeiro”, pontua.

“Sem capital de giro para financiar necessidades de curto e médio prazo, a empresa pode comprometer as receitas ou contrair novas dívidas, e isso pode tornar a situação insustentável”, reforça Crivelaro, apontando outros sinais que podem identificar um possível encaminhamento da empresa para a falência:

– Muitas dívidas vencidas

Obrigações não pagas no vencimento geram juros moratórios, multa e possibilidade de protestos e processos judiciais, aumentando o nível de endividamento.

– Excesso de financiamentos

Além de representarem mais dívidas, os financiamentos geralmente trabalham com garantias que, se usadas, podem afetar o patrimônio da empresa.

– Menores possibilidades de crédito

Se o nome da empresa já está sujo, ou por algum outro motivo ela não consegue crédito, diminuem as possibilidades de saldar dívidas ou investir em melhorias.

– Muitos processos judiciais

Conforme a empresa coleciona processos, surgem novos gastos com honorários advocatícios, custas judiciais, condenações etc.

O que fazer quando a saúde financeira da empresa não vai bem?

Quando a empresa detecta que está com dificuldades para honrar os compromissos, o primeiro passo é encarar a realidade e não mascarar a situação.

“É melhor pecar pela cautela do que deixar de agir por ter ignorado o problema e depois sofrer consequências piores”, adverte Crivelaro.

A especialista da FIA também mostra que é fundamental mapear a situação financeira atual da empresa, com apuração do resultado e balanço patrimonial.

“Nesta etapa, vale a elaboração de um planejamento estratégico para lidar com novas necessidades da sociedade”, sinaliza.

Outro passo importante, é expor a situação para os funcionários e credores, na tentativa de renegociar as dívidas.

“Credores têm interesse em serem pagos. Com uma boa conversa, eles podem se mostrar dispostos a alterar os termos dos compromissos antes que a situação se torne insustentável. Tente renegociar dívidas ou fazer acordos”, analisa o professor de finanças e economia do Centro Universitário FIAP.

O Serasa Experian também aponta algumas ações que podem ser executadas a curto prazo e fornecer recursos importantes para minimizar os impactos no fluxo de caixa e manter os próprios compromissos e aqueles feitos com funcionários e fornecedores. Acompanhe algumas delas:

1) Tenha o fluxo de caixa como aliado

Problemas de fluxo de caixa impactam mais rapidamente as MPEs, que costumam usar a receita gerada mês a mês para o pagamento de salários e fornecedores.

Muitas delas não possuem fôlego suficiente na receita mensal, ou seja, têm menor capacidade de capital de giro.

Portanto, evitar a inadimplência ajuda neste processo. Para quem oferece crédito e vendas a prazo, a recomendação é avaliar melhor o nível de risco para diminuir as chances de não ter o pagamento.

O caminho, então, é adequar a política de crédito à nova realidade (ainda que temporariamente), reavaliando limites, prazos e condições.

Os pagamentos em dinheiro, por exemplo, podem ser aliados e o empreendedor pode incentivar este tipo de operação com descontos – ainda que sejam baixos. 

2) Pense fora da caixa e crie oportunidades 

Ainda que no atual cenário, é importante tentar manter o negócio funcionando, mesmo remotamente, com funcionários produzindo na medida do possível e fornecedores entregando até que a situação volte ao controle e a empresa retorne à sua normalidade. 

É preciso, pensar fora da caixa e criar oportunidades. A queda na receita pode ser amenizada com a adequação à demanda, com promoções e redução dos estoques, principalmente no caso de produtos perecíveis. Na hora de comprar algum item importante para a produção, vale considerar o cenário para evitar gastar mais do que o necessário.

Usar a tecnologia também pode fazer bem às vendas, utilizado, por exemplo, as redes sociais para divulgar o negócio na região, podendo fazer entregas próximas e sem custo para os clientes.

Há, ainda, os aplicativos de delivery, que podem trazer retornos positivos por ampliar a rede de clientes. Você também pode buscar informações na internet sobre plataformas de marketplace, que reúnem pequenos e médios lojistas de setores variados e avaliar como opção para manter as vendas. 

Neste momento, também é importante se informar sobre linhas de crédito especiais, extensão dos prazos para pagamentos e até isenção de impostos. Recursos como estes recursos podem dar um fôlego extra ao capital de giro até que a situação se normalize. 

3) Crie novas estratégias para continuar a vender

Adicionar benefícios que não impactem financeiramente o negócio, como um cartão fidelidade que dá desconto após um número determinado de compras ou um brinde, é uma forma de manter a preferência do cliente pela empresa.

É possível também agrupar produtos ou serviços, fornecendo pacotes mensais ou combinando itens para incentivar a aquisição de produtos e serviços.

Se a empresa normalmente vende 10 unidades por R$ 100, mas precisa passar a vender por R$ 120, pode-se criar algumas opções intermediárias. Um pacote de 5 unidades por R$ 70 e outro de três unidades por R$ 45, por exemplo. 

Dicas para ajustar a gestão financeira 

A professora do ProCED da FIA, Dariane Fraga, complementa as orientações para as empresas. Confira.

– Avalie custos e despesas

Manter estrutura enxuta (e o mais variável possível), suficiente para garantir entrega dos produtos ou serviços (de acordo com a missão da empresa). Negociar com fornecedores redução de gastos com Materiais prima, materiais, aluguel, contratos no geral,  gastos com pessoas (nesse caso avaliar utilizar subsídios oferecidos pelo governo, avaliar novas formas de contratação).

– Reveja empréstimos e financiamentos

Avaliar pausar prestações, aproveitar novas linhas de crédito, repactuar todas operações atuais (afinal a taxa básica de juros do país caiu).

– Reavalie a retirada dos sócios

Se necessário, vale reduzí-las por um tempo.

O que acontece em caso de falência?

Ao decretar a falência do negócio, o empreendedor está afirmando que ela não terá mais como prosseguir em suas atividades, uma vez que se tornou impossível pagar as dívidas que foram contraídas ao longo dos anos.

“A partir do momento que a empresa informa que está fechando as suas portas por não ter como arcar com os débitos já contraídos, os seus credores ficam na desconfortável situação de saber que provavelmente o saldo devedor não será quitado”, explica o executivo da Fiap, relembrando que, além disso, esse processo resulta no fechamento de postos de trabalho e, em muitos casos, processos trabalhistas por falta de pagamento de salários, benefícios e até do FGTS.

Fotos: Getty Images

Leia também: Governo de SP e Sebrae-SP oferecem crédito para empreendedores

 

 

 

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